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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: “BAIÃO DE DOIS”

Acabo de ler, no Mural, pela terceira vez, a crônica de Jorge Silveira, intitulada Candelabro Italiano, em que ele, com seu consagrado estilo literário, faz um interessante paralelo entre o uso das lambretas e motos de ontem, com as de hoje. Enquanto as de ontem eram usadas para as paqueras, para a conquista dos objetos dos amores dos rapazes, as de hoje, pelo menos em nossa aldeia, são utilizadas para assaltos à mão armada. É, Jorge, a gente era feliz e não sabia.
Jorge cita um meu escrito sobre a turma de Gerinha Português, da qual sou, até hoje, com muita honra, modesto integrante e diz que nós babávamos de inveja quando líamos, na coluna social de Lazinho Pimenta, a notícia das “Festas da Cueca”, promovidas por Hamilton Didier Guimarães, nosso estimado Mimi, alagoano que residiu por muitos anos em Montes Claros, nas quais só era permitida a entrada dos rapazes que tivessem lambreta, com honrosa exceção ao Lazinho.
Realmente, meu caro Jorge, pelo fato de possuírem lambretas, Waldir Aguiar, Márcio Milo, Agnaldo Drumond, você e outros, levavam a maior vantagem nas paqueras, porque isso era a onda da época. Nós, da turma de Gerinha Português, vivíamos, na verdade, era sem grana. Enquanto vocês já trabalhavam e ganhavam o seu nós éramos sustentados por nossos pais e, naquele tempo, o vil metal era bem curto para os imensos encargos. Mesmo se sobrasse algum, eles não liberavam, até com medo de que caíssemos na gandaia. Vocês, ao contrário, jovens e já trabalhadores, independentes, ganhavam sua própria grana, o que lhes permitia comprar e manter suas lambretas e ainda, depois das bem sucedidas paqueras, arrematarem as noitadas no Mangueira e na casa de “tia” Leobina. Nós mal tínhamos dinheiro para ir ao Bequinho, de vez em quando, amar uma sacerdotisa.
Agora, Jorge, o que mais me fez meditar depois de ler sua crônica foi a análise – posso estar errado e peço a você antecipadas desculpas – sobre o bem que a liberdade sempre faz às pessoas. E parto, com toda pureza, de meu próprio caso. Vocês, na juventude, tiveram grana própria e se divertiram a valer, porque trabalhavam. Nós, dependentes dos pais, só passamos a ter a nossa já adultos. Vocês, pela liberdade conquistada na juventude, tornar-se-iam, depois, ótimos maridos, não por imposição, mas por opção. Isso porque aproveitaram, ao máximo, a juventude, até se cansarem e se acomodarem. Nós, ao contrário – aconteceu comigo e, creio, deve ter acontecido com muitos de meus amigos –, quando passamos a ter nossa própria grana, não resistimos àquela vontade louca de fazer coisas que não fizéramos na juventude. Será que foi isso mesmo que aconteceu? Só Freud para explicar.
Outro dia, Jorge, casa de Zé Augusto, em Angra, relembrávamos essas histórias. E Bárbara, minha sobrinha, fez um vídeo de nossa conversa, sempre repetida em nossos encontros, especialmente nas nossas costumeiras festas de natal, na casa de Saulo, aqui em Belô. Dentre elas há a da macarronada (nosso dinheiro só dava para esse prato ou para um mexidão, o famoso “Baião de Dois”) do Espeto de Ouro, em que Olguinha, cozinheiro gay, fã de Saulo, a quem considerava o rapaz mais bonito da cidade, punha, às escondidas, por debaixo de nosso macarrão, no fundo da travessa, um filezão à milaneza, até que Zé Amorim descobriu, espetou-o com um garfão, daqueles do capeta, saiu com ele, pingando gordura, por entre as mesas do restaurante, dizendo que aquele cozinheiro, veadinho, ainda o levaria à falência. Há a de Zé Augusto, que pedia à mãe para demorar, um a dois meses, para lhe presentear com uma camisa, para que pudesse juntar mais grana e comprar outra mais cara, em moda na época, usada pelos rapazes das famílias mais abastadas da cidade. Há as das festas em que éramos barrados ou recebidos com desprezo, simplesmente por não verem em nós futuro promissor. E como rimos, hoje, disso tudo. Vocês, tal qual nós, também eram e são pessoas humildes, só que já em suas juventudes ganhavam sua própria grana e puderam namorar à vontade, comprar suas lambretas, pagar seus cuba-libres no Mangueira e os amores das moças de “tia” Leobina. Isso, para nós, naquele tempo, era aventura quase proibida, raríssima e inusitada.
Só peço a você, meu caro amigo, bem assim a Waldir Aguiar, Agnaldo Drumond, Márcio Milo e aos demais membros de sua gostosa turma, que renovem o “pacto do silêncio” por, pelo menos, mais uns cinqüenta anos para que sejam preservados os segredos de algumas maravilhosas vovozinhas de hoje. Quanto às “Festas da Cueca”, nos réveillons da casa de Mimi, saibam que eu teria gostado imensamente de ter participado. Só que nunca me convidavam. Mas também quem mandou eu não ter minha lambreta!? Paciência!!!

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