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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 21)

DUPLA NATURALIDADE

Quando nasci, Várzea da Palma era distrito de Pirapora. Fui batizado na igreja matriz de Pirapora, por Frei Braz, padre holandês, da ordem dos franciscanos, e registrado no Cartório do sr. José Álvares da Silva.
Tendo Várzea se emancipado, posteriormente, fiquei tendo duas naturalidades, podendo optar por qualquer delas.
Optei pelas duas. E isso me faz duplamente feliz.

PIRAPORA
O BOM HUMOR DO PIRAPORENSE

O Braz era um cidadão muito querido em Pirapora. Era tesoureiro da Central. Um dia ele foi caçar e perdeu-se na Serra de Arão Reis. A notícia correu na cidade e logo a moçada formou um grupo para sair em busca do intrépido caçador. Eram tempos de campanha política e estava em evidência a UDB – União Democrática Brasileira, precursora da UDN.
Na base da gozação a moçada espalhou faixas nas ruas, com os seguintes dizeres em letras garrafais:

UDB – UNIDOS DESCOBRIREMOS O BRAZ.
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Trecho de carta de um morador do bairro Entre Rios para um parente que estava em São Paulo:

“Olha, dezembro está chegando. É o mês das enchentes. Venha passar a inundação com a gente. O ano passado você não veio. Não sabe o que perdeu. O governo deu ajuda e nós fizemos um carnaval que durou d uas semanas”.
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De um lado do pátio da estação da Central ficava o Café Paz e Amor, do França. Do outro lado ficava o quiosque da Dona Eva, mãe da Ernestina. Era uma cantina onde eram servidas refeições leves.
A filha, a Ernestina, era uma bela moça. Alta, loura, rosada, era bonita demais. O único senão é que ela era muito alta. Para mim, seu admirador, que só tinha 11 anos e era magro, miúdo e anêmico.
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Era um fim de tarde. Já havíamos jantado e estávamos sentados à porta da Pensão Lobo. E lá vinha a Ernestina, com sapatos de saltos altos, vestido cor de rosa, esvoaçante, bonita de matar. Vinha pelo meio da rua, pois naquele tempo não usava andar pelos passeios.
Ao passar em frente à pensão, o “seu” Lobo, que ficara viúvo recentemente, levantou-se de sua cadeira, fez uma mesura, segurando a barriga, que não era pequena, e saudou-a:
- Olá, Ernestina, como vai essa beleza?
E ela, com um sorriso gracioso.
- Vou indo ... Vou remando contra a maré...
Foi demais para mim. Minha admiração dobrou. Eu nunca tinha ouvido uma frase tão bonita assim: “vou remando contra a maré” Com o cotovelo cutuquei meu irmão Vicente, que estava a meu lado.
- Veja, meu irmão, o que é cidade grande. Lá em Várzea não tem ninguém capaz de dizer um trem bonito desse jeito.
Já pensou quando nós voltarmos à Várzea e nos perguntarem como nós vamos indo?

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Havia muitas mulheres bonitas ... e gordas. Naquele tempo, mulher para ser bonita tinha de ser gorda.
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Nós chegamos a Pirapora num domingo de fevereiro de 1928. Passamos pela porta do cinema e havia um cartaz anunciando o filme do dia. Era uma comédia, intitulada CÔCO DE SORTE, com os artistas Johny Hines e Edna Murphy.
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O sr. Raymundo Nascimento era o dono do cinema. E ia a todas as sessões, sempre acompanhado da esposa, dona Ernestina. Mas passava pelo guichê e comprova ingresso, como todo mundo. Ele me conhecia porque no dia da exibição do filme CÔCO DE SORTE eu ri tanto que minhas risadas chamaram a atenção das pessoas que estavam próximas de mim, e ele era uma dessas pessoas.
Um dia ele estava comprando ingressos para ele e a esposa e me vendo por ali chamou-me e perguntou se eu queria ver o filme. Eu me aproximei dele e agradeci.
- Obrigado. Não quero não “seu” Raymundo. É fita de amor. Eu gosto é de fita cômica ou de murros e tiros.
Lembro-me ainda que era o filme SEMI-NOIVA, com Lew Cody, um cara de bigodinho, mais chato do que Adolphe Menjou.
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O sr. Paulo Santana era um homem muito honesto, muito sério, mas gostava de brincar, de vez em quando, com os amigos.
Ele era gerente de uma mercearia, localizada em frente ao edifício do fórum. Uma tarde um seu amigo chegou com uma folha de papel almaço e pediu a ele que lhe fizesse um abaixo assinado. O “seu” Paulo tinha uma letra muito bonita. Fez um trabalho limpo. O amigo assinou e foi para o fórum. Daí a pouco voltou e falou, mal contendo o riso.
- Não tem jeito para você não, Paulo. Todo mundo lá no fórum está rindo.
- Rindo de que?
- Você ainda pergunta?... Em vez de escrever “eu, abaixo assinado”, você escreveu “eu assino abaixado”.
Eu e Vicente meu irmão trabalhávamos no balcão da mercearia. Presenciamos o ocorrido. E rimos pra valer.

(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

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