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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 22)

PIRAPORA – AQUARELA DO PASSADO
(Retrato falado de uma época)

Pirapora da beleza
das praias do São Francisco,
das moças de olhar arisco,
do peixe bom sobre a mesa.
Deste vale és a princesa
por direito e tradição.
O amor é teu brasão,
teu convívio é lealdade.
Pirapora da amizade,
flor cheirosa do sertão.


Sou filho deste torrão
e relembro seu passado.
Chico Freire, delegado,
o Crispim da estação
e o homem do pão é pão
a tocar sua buzina
e a cantar em cada esquina
os versos do pão melhor
que ainda trago de cor
a cantar no coração.

Os Ramos e os Nascimento,
a chegada do vapor
o café “Paz e Amor”
já “hippie” naquele tempo.
Num vôo de pensamento
a alma se engalana
e se a mente não me engana
fecho os olhos e revejo
a trabalhar no Varejo
o Zeca e o Paulo Santana.

E o Grande Barateiro
seu Salomão Abdalla
a vender em alta escala
faturado e a dinheiro.
José Maia, hoteleiro,
seu Raimundo, coletor,
Mestre Violão, professor.
E na rua das Pitombeiras
voando de asas ligeiras
as mariposas do amor.

Em tempo de jabolão
o Bernardino soldado
corria por todo lado
nos meninos tendo a mão.
E nas noites de São João
nunca vi tanta fogueira,
esta Pirapora inteira
de luzes se enfeitava
e o foguetório espoucava
animando a brincadeira.

Domingo depois da missa
moças andando na praça
rapazes fazendo graça
e passeando na liça.
O jovem Felix Batista
de olhos claros e francos
do alto de seus tamancos
andava a cidade inteira
com a loteria mineira
a vender bilhetes ... brancos.

Hotel Internacional,
Hotel Maia, Hotel Lima,
e lá na Rua de Cima
havia a Pensão Ideal.
Nesse tempo o carnaval
já era a festa do povo.
Só de lembrar me comovo
de como o povo vibrava
e todo mundo se abraçava
nas vésperas do Ano Novo.

O futebol era quente
e o ingresso era de graça.
Em qualquer campo na praça
domingo era assim de gente.
O juiz era pra frente:
- calça-pé era legal
também o salto mortal
e as entradas de sola.
Pênalti era mão na bola
só em jogo oficial.

O comércio era animado.
Me lembro do Bar do Dante
de movimento constante
pelos jovens freqüentado.
O Trapiche, no atacado,
Pedro Jorge no balcão
e o senhor Salomão
vendia no Park-Royal
seu estoque sem igual
a preços de ocasião.

Tinha o bar do Zé Batista,
a padaria Carvalho,
casas de peixe e de talho
vendiam a prazo e à vista.
Zé Isidro, maquinista,
Modestino, Cassiano.
Nas ruas, mingau baiano.
E havendo circo na praça
a gente entrava de graça
passando por baixo do pano.

Seu Geraldo e a bandinha
que tocava nas paradas,
nas retretas e alvoradas
e a todo mundo entretinha.
Uma outra lembrança minha
é do senhor João Medeiros.
Era o rei dos leiloeiros
no mês de maio e novenas
- reminiscências amenas
daqueles tempos fagueiros.

O seu Arthur Nascimento,
correspondente do banco,
ofertava crédito franco
a juros de um por cento.
Grande era o movimento
na empresa Viação.
Nessa mesma ocasião
dona Clara e Ernestina
possuíam uma cantina
na Praça da Estação.

José Álvares, escrivão,
seu Raimundo, coletor,
dois cidadãos de valor
em todo o Grande Sertão.
Em tempo de eleição
era enorme o movimento
em torno do grande evento.
O povo se animava
e até defunto votava
nos Ramos e nos Nascimento.

Doutor Rodolfo Mallard
grande médico e cidadão
e o Nestor, seu irmão,
também figura exemplar.
É justo aqui destacar
Nelson Cota, estudante,
Sancho Ribas, comerciante
na praça conceituado.
E doutor Duque, advogado,
na política atuante.

Targino Lima comprava
couros de boi e mamona.
Juca era o rei da sanfona
na Fazenda Canabrava.
Seu Pedro Nunes gostava
de pescar de anzol no rio.
Nas tardes calmas de estio
sempre era visto na ponte.
Nos trens de Belo Horizonte
mulher de todo feitio.

Quincas Ramos, boticário,
com farmácia na esquina,
com sua pesada batina,
Frei Jorge, santo vigário.
Em dia de aniversário
Pirapora era uma festa.
Tinha batuques, seresta,
Banda de Música, rojão.
E danças de pés no chão
na fazenda da Floresta.

Pedaços de Pirapora,
aquarela do passado,
amor profundo, guardado,
a reviver nesta hora.
Adeus, que já vou-me embora
oh! Mais terna das cidades
- oásis nas tempestades
que ficaram para trás.
Contigo eu deixo a paz,
comigo ... levo saudades.

(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

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