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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Triste noite de São João

Raquel S. Chaves

24 de junho, dia de São João. Dia da mais longa e fria noite do ano. O dia hoje está mais triste. Montes Claros está de luto. Partiu Beto Oliveira.
Parte exatamente no dia de São João, dia escolhido por Deus para levá-lo para junto de si... Como todo bom boêmio, amante da noite e da lua que se preze. Dia de tocar sanfona, de dançar Lundu e Guaiano... Dia de cantar aboio e rastar o pé no salão. Beto Viriato, da famosa, cheirosa e saborosa cachaça Viriatinha. Beto do Rebentão dos Ferros, Beto seresteiro, Beto de Tonha (companheira de tantos anos!), Beto de margarida, sua extremosa irmã, com quem morava; Beto de Maria Teresa, sua sobrinha querida, companheira de farra e de um copo ou outro de cerveja gelada... Beto de sua inseparável sanfona. Beto de uma fidalguia ímpar. Beto calmo, manso... Conheci Beto, ainda menina, era um dos grandes e fiéis amigos do meu pai Raimundo Chaves. Meu pai costumava brincar dizendo que, até que Beto tirasse um pé do chão, cupim já havia comido o outro, tamanha era a sua paciência... Vez ou outra íamos ao Rebentão dos Ferros, onde estão plantadas, até hoje, as suas raízes. Éramos recebidos por Pedrinho, Tiãozinho e Beto. A casa, de sala de visita grande, de paredes brancas e toras de madeira, era o ambiente propício para os adultos jogarem conversa fora, tomarem café com biscoito e trocarem sabedoria. No fundo da casa, a molecada nada na barragem e apronta traquinagens. E o almoço? Ah o almoço! De lamber os beiços! O famoso frango caipira com angu de milho verde e picadinho de quiabo com carne seca. Passávamos um dia de completa diversão. Desde menina, me tratava com um carinho especial. Além do Rebentão, nos encontrávamos nas apresentações do Grupo de Serestas João Chaves. Encantava-me ouvi-lo cantar “Fazendeiro rico” (música lindíssima, que só agora, venho saber que é de sua autoria). Como poucos, tive o privilégio de ver e ouvir tocar sua famosa sanfona! Sempre que tinha oportunidade, dizia-me que sou linda, de coração grande. Até pouco tempo, quando nos encontrávamos nas apresentações da Seresta, em festas ou barzinhos, pude sentir a sua alegria de viver. Tomando sua cervejinha de pernas cruzadas e na companhia de alguma moiçola. No dia 14 de junho, na saída da missa de um ano de saudades, do meu primo Repolho, encontrei-me com Tonha, na porta da Catedral, que me informou da sua internação Notei uma grande tristeza no seu semblante, disse-me que você não merecia estar daquela forma. Concordo em número, gênero e grau! Pessoas como você, Beto não merecem sofrer. Por isso, Deus resolveu aliviar a sua dor, te pegou pelas mãos o colocou em um balão de São João e o levou para o lugar merecido: o paraíso; onde provavelmente, já se encontrou com os amigos de noite alta e carraspana... Dr. Hermes, com certeza, já deu o grito; e agora, já estão perto de você: Tele, meu avô João Chaves, Sinval Fróes, meu tio avô Monzeca, Gilberto Câmara, Luis Procópio, Raimundim Chaves meu pai, com minha mãe Terezinha, amante de uma boa seresta, Virgilio de Paula e Adélia Miranda, e tantos outros montesclarenses que se foram. Grupo de primeira qualidade pode soltar a voz, que Montes Claros no alto dos seus 151 anos inteira, ouvira e se emocionara. Com a falsa modéstia de que é a genitora, de filhos ilustres, como você. Descanse em paz.

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