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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A PRAÇA DE ESPORTES

JOSÉ PRATES

Ali não era um ponto de encontro de jovens namorados. Era sim, o ponto de encontro de uma juventude que amava o esporte e, também, um ponto de diversão para gente de qualquer idade. Ali estavam as quadras de basquete e vôlei, a piscina olímpica, a pista de corrida, a quadra de ginástica e tudo mais que fosse necessário à preparação do jovem, dentro do esporte. Quem tomava conta daquilo tudo, era um sargento PM que, por mais que eu tente, não consigo lembrar-me do seu nome. Esse militar tinha amor e zelo por aquele pedaço onde se formavam os jovens atletas de Montes Claros e tinha lugar as competições regionais e entre colégios. Lembro-me do jardineiro Benício, de tesoura na mão, acertando a folhagem dos fixus que cercavam a praça, enquanto outros cuidavam dos canteiros floridos que ficavam na área interna. Lá dentro, estavam a alegria das aulas de ginástica; o apito dos treinadores nas partidas de vôlei. No salão do prédio da administração, a vitrola toca a meio som, o bolero “besa mucho, como se fuera la ultima vez”, para que dois jovens dancem agarradinhos, de olhos fechados, como se fossem anjos descendo do céu sobre a praça de esportes, orgulho da cidade e alegria da gente jovem. Naquela ocasião, duas coisas chamavam a atenção em Monsclaros: a catedral e aquela praça. Nas famílias de classe média, casamento era feito na Catedral; churrasco aos domingos, na praça de esportes.
Hoje, pelo que leio no moc.com e me deixa triste e saudoso é que a Praça de Esporte, aquela mesma praça que alegrou tanta gente, que foi motivo de orgulho para a cidade, é hoje uma espécie de monstrengo que precisa ser retirado, para desocupar o terreno. O que ontem foi maravilhoso, belo e necessário, hoje é entulho. O que eu li é que pretendem no lugar da Praça, edificar um grande shopping-center com supermercado, lojas de departamento, praça de refeições, área de lazer e mais coisas. A notícia nos causa um impacto como se fosse algo nosso condenado a desaparecer. É natural a reação, é natural a sensação de perda, porque em nós está aquela Montes Claros de ontem, onde vivia uma juventude poética, com inocência sertaneja. Sei que a poesia cedeu lugar ao comércio que envolve do jovem ao velho e isto é aceito com naturalidade no mundo inteiro. É o progresso material que não sabe o que é poesia. Não fosse o tombamento como patrimônio histórico, os velhos casarões a nos contar uma história, com sua beleza do passado, já não existiriam mais, engolidos pelos arranha-céus, mercadoria rentável no grande comércio imobiliário. A praça de esportes não é objeto de tombamento. Não conhecemos a Montes Claros de hoje que se desenvolveu e tornou-se u’a metrópole. Por isso, a Montes Claros sertaneja e poética ainda vive dentro de nós.
Não é em nada estranho, nem novidade pra quem vive nos grandes centros, aonde o desenvolvimento econômico chegou, edificar um grande shopping no lugar de uma praça para lazeres, fora de uso. Tudo bem. Mas, onde está a praça de esportes nova, com toda modernidade que a Montes Claros de hoje exige? Se vai jogar fora aquela velha e imprestável, é por que foi substituída por uma nova com todos os requisitos de modernidade como convém a uma cidade que ganhou foros de metrópole. Essa praça deve existir, mas, não sei onde fica porque não conheço a Montes Claros moderna e capitalista. Gostaria de saber. Enquanto isto, deixem que a velha praça de esportes fique em nossa lembrança, como coisa do passado. Um dia, quando lá formos para matar a saudade, vamos nos divertir no big shopping-center que está em seu lagar.
Vi, ainda há pouco, a foto de Montes Claros iluminada pela lua cheia, estampada no Mural. Chamei minha esposa e mostrei. Ficamos ambos, parados, olhando a nossa cidade que cresceu, tornou-se adulta e ganhou o corpo de mulher.

(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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