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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Retrato da Praça de Esportes

Ruth Tupinambá Graça

Causou-me tristeza quando a Praça de Esportes começou a ser na administração passada com a construção de “quiosques” em uma de suas laterais.
Se isso não bastasse, vejo no jornal a notícia da sua institucionalização como local de “shows”.
É triste constatar o desprezo da administração publica.
Resolvi então ressaltar sua história, o seu valor e os benefícios prestados à nossa cidade.
Em 1941 a Praça de Esportes surgiu bela e majestosa, conquistando todos os corações. Este acontecimento que marcou a época em nossa cidade, não surgiu facilmente, como um passe de mágica.
Nem todos sabem o que foi outrora o local onde ela se localiza hoje. Era uma várzea, servindo de logradouro público e, na época de chuvas, ela se transformava num verdadeiro pantanal. Servia também de deposito de lixo da cidade e nos seus últimos tempos, até animais mortos e abandonados nas ruas, eram ali atirados o que constituía o paraíso dos urubus.
Em 1845 o Vigário Antônio Gonzaga da Figueira, presidente da Câmara Municipal de Montes Claros das Formigas, com uma comissão, por ele nomeada na sessão de 25/10/1848, acharam por bem indicar a “Várzea” ( em toda sua extensão) o lugar escolhido como servidão pública, abrindo duas cisternas (único lugar de água potável) próprias para lavagens de roupa no tempo da seca, e onde podiam encostar os animais de passageiros, carros de bois, gados, tropeiros que ali se arranchavam para a entrega de mercadorias.
Até 1938 esta “Várzea” permaneceu abandonada. A noite era tranqüila e o único sinal de vida era o coaxar dos sapos, que na sua orquestra extravagante, quebrava a monotonia daquela “Várzea” escura e triste, que se chamava Prado Oswaldo Cruz. Um largo enorme maltratado, algumas casas comerciais antigas espalhadas ao seu redor e no centro um grande “Papa Vento”.
As autoridades competentes da nossa cidade, até então ,nunca conseguiram transforma – lá numa Praça atraente e bonita, nem tão pouco aproveitar aquela enorme extensão para fins melhores.
Os anos foram passando e o destino (para sorte de Montes Claros) deu-lhe um novo prefeito. O Dr. Antônio Teixeira de Carvalho, o “Dr. Santos” como era chamado.
Ele era dinâmico, inteligente e capacitado de inimitável força de trabalho, empreendedor de grande coragem e otimismo. Bom caráter, personalidade forte que levava as pessoas a respeitá-lo, inclusive amigos e correligionários.
Nunca foi prefeito de gabinete, acompanhava de perto todas as obras até as mais simples, como verdadeiro fiscal. Não para criticar ou repreender os operários, mas para estimula-los, dando-lhes apoio e valor.
As verbas da prefeitura eram sagradas e sabia como aplicá-las,, espichando-as para fazer o máximo com o mínimo de gasto.
Dr. Santos sonhava com o progresso de nossa cidade, e cheio de entusiasmo, idealizou a Praça de Esportes. Queria um esporte orientado e bem planejado de maneira que a infância, adolescência e juventude montesclarense pudessem pratica-lo desenvolvendo-se física e socialmente.
Esta obra era caríssima e difícil, levando em conta os cofres vazios da prefeitura. Ele conseguiu vencer todos os obstáculos, graças a sua capacidade de trabalho e prestígio político junto ao governador do estado Dr. Benedito Valadares.
Em 15/03/1939 foi lançada a sua pedra fundamental, começando imediatamente a drenagem daquele famoso pântano.
Dois anos mais tarde, 1941, estava pronta a tão sonhada Praça de Esportes, com Quadras de tênis, vôlei, piscina, etc.
Fazendo muita questão da estética e beleza, trouxe de Belo Horizonte plantas variadas e um jardineiro especializado para cuidar do jardim e também treinar os jardineiros da prefeitura, que desconheciam as técnicas de jardinagem. Nossa praça ficou um luxo! O primeiro jardineiro foi Jair carneiro, que cheio de entusiasmo e amor cuidou de todos os jardins e praças durante muitos anos.
Até então a Praça de Esportes era um atraso de fazer dó e as famílias tão preconceituosas e ignorantes não consentiam que os filhos (principalmente as “donzelas”) freqüentassem a Praça de Esportes, achando que certos esportes (principalmente natação) prejudicavam as mulheres perturbando seus órgãos genitais. Também não ficaria bem a moral das moças usando “maiôs”, exibindo o corpo em frente à rapaziada.
Algumas mais afoitadas em desobediência total, iam se refrescar na deliciosa água azul da piscina, mesmo assim no horário feminino.
Mas a praça, sonho do “Dr. Santos”, veio com força total quebrar o tabu da família montesclarense, que aos poucos foi se acostumando e soltando suas “donzelas” que se transformaram em verdadeiras “sereias” de piscina, nadando com tanto estilo, que chegaram a disputar campeonatos em outras cidades conquistando taças para nossa cidade. Graças ao Sabú, que foi um excelente professor de natação, extremamente dedicado, treinando os jovens da nossa cidade e transformando-os em atletas livrando-os de vícios e das drogas.
Mais tarde foi construída a sua sede social luxuosa e confortável, anexa à Praça de Esportes. Era o ponto onde aconteciam todas as festividades sociais de nossa cidade.
Aos Domingos as célebres “matinês dançantes”, a “coqueluche” dos anos dourados. No salão repleto reinava alegria, animação e respeito.
E como se dançava naquele tempo!... Época boa dos boleros, de rosto colado, única extravagância permitida aos namorados. Nada de bebidas alcoólicas. Era só o prazer de dançar e sentir o calorzinho do par muito querido e desejado.
A nossa cidade foi crescendo, surgindo novos clubes sociais e a Praça de Esportes foi ficando no escanteio. Até a sede oficial foi demolida, nem sei mesmo por que. Coisas que só em Montes Claros acontecem...
Hoje ela está mais velha e triste. O seu jardim, antes tão bonito, perdeu aquele colorido e as “boungainvilles” que formavam uma cerca em sua volta, numa festa de cores, vão desaparecendo, pouco a pouco. Árvores enormes tomaram conta, quebrando sua estética.
Tornou-se cada vez mais isolada, com ausência dos namorados, dançarinos e atletas da terra.
Dês prezaram-na. Esqueceram-se dos 57 anos de benefícios prestados á nossa comunidade.
Nossa Praça de Esportes está morrendo... É triste constatar o desprezo da administração pública!
É mais um monumento histórico que vai desaparecer assim como: a Igrejinha do Rosário, O mercado Municipal, o Colégio Diocesano e muitos outros que desapareceram da nossa cidade para nossa saudade e tristeza.

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