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Mensagem: MINHA INFÂNCIA EM JACARACIJosé Prates A lembrança do passado, principalmente da infância ou da juventude, acontece com freqüência quando atingimos a idade avançada, apresentando-nos imagens com tamanha fidelidade que são capazes de nos transportar para lugares onde estivemos e nos mostrar cenas que ali vivemos, nos permitindo revivê-las e sentir os seus momentos com a mesma intensidade que os sentimos naquele tempo remoto. Essa lembrança com imagens tão fieis, não vem com a mesma forma na idade jovem ou na meia idade, porque aí o presente é intenso e não cede lugar ao passado que “é coisa morta”. Na idade avançada, a lembrança desse passado, revivendo intensamente os momentos felizes da infância ou da juventude, é um artifício da alma que busca um lenitivo para as amarguras da velhice, um analgésico para a dor da inatividade que martiriza idoso. Toda minha infância foi em Jacarací, cidade onde nasci. Dessa infância tenho gratas recordações que agora emergem do arquivo da memória e se projetam na mente, fazendo-me viver um passado distante e feliz, quando não conhecia problemas que nos envolvem no cotidiano, nem sabia o que eram dificuldades na condução da vida cheia de exigências. Sinto-me correndo pelas ruas, descalço e sem camisa, fazendo parelha com outros meninos, ou então pulando no areião da rua do fogo, brincando de circo. Não sentia o tempo passar criando ou destruindo ilusões, nem tomava conhecimento das agruras de quem lutava pela sobrevivência naquele mundo pequeno. Tinha amigos, colegas de escola com quem brincava nas ruas tranqüilas, vazias de povo, onde o barulho de um carro chamava todos à porta, curiosos pela novidade. Não havia muitas atrações que despertassem o interesse, salvo os bailes no salão da Prefeitura com o soalho encerado a vela, ao som fanhoso do gramofone. O domingo começava com a missa na Igreja lotada, para um desfile de roupa nova. Futebol havia à tarde. Começou no largo da Igreja, depois foi para um campo gramado, perto da ponte, ao lado da estrada para Areia Branca. Lembro-me das cores dos dois times: um azul outro vermelho. As “partidas” tinham boa assistência que chamava o goleiro de quiper; a defesa de beque, ralf e center ralf e o meio campo de center for. Naquele tempo, no futebol, não usava termos portugueses como hoje, usava-se a pronuncia do inglês. Eu gostava de ir ao Cruzeiro assistir à missa quando o Padre resolvia celebrá-la ali. Esse Cruzeiro que, ainda, existe até hoje, como fui informado, é uma capelinha no alto do morro. Acesso dificil. Uma escada natural, formada por lages, num corredor formado por grandes pedras, leva ao topo, onde está num planalto, a pequena igreja, tendo à frente um grande cruzeiro, visto de longe. O campanário do lado de fora, era atração da meninada. Eu ia com minha avó, sempre vestida de preto, com um chale que lhe cobria a cabeça e os ombros. Andava devagar. E nessa vagareza, eu aproveitava para observar e admirar a natureza virgem e bela que nos cercava. Nos dias de missa, juntava-me aos outros meninos, acólitos da missa. Antes, porém, estendia o olhar pela mata que circundava o morro e contemplava maravilhado, a cidade aos nossos pés. Belo e poético o espetáculo da natureza, mostrando a mata verdejante abraçando a montanha. Areia Branca, lugar misterioso, que só a natureza pode explicar. Um lençol de areia alva como o leite, estendido no sopé do morro. Quanto mais cavam, mais alva aparece. Não tenho conhecimento de nada igual em outro lugar Para chegar à areia branca, passávamos pelos gerais floresta rala, onde encontrávamos pés de pequi, cabeça-de-negro, cagaita. mandapuçá, araçá e algumas outras frutas da região, regalo de todos.. Era uma festa pra meninada que em algazarra subia nas árvores para apanhá-las. Essa areia branca, existente, apenas ali, pelo que sei, não tinha nenhuma utilidade a não ser enfeitar presépios que naquela época, eram armados em todas as casas da cidade. Visitá-los, a todos, não era uma simples diversão, mas, quase obrigação. Existiam os mais bonitos com figuras bíblicas, sem faltar a vaca, o carneirinho no ombro do pastor, o jumento e a manjedoura com o menino, ladeado por Maria e José. Dois presépios que eu me lembro, eram os mais bonitos: o de “sà” Maria de Albino e o de dona Dedé, mulher de “seu” Mulatinho, Agente do Correio. Revivendo essas lembranças, nós a transmitimos àqueles que as viveram conosco e os faremos senti-las e vivê-las com o mesmo prazer e alegria que elas nos proporcionaram no passado. (José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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