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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 28 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Perdemos o caminho Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ Quando vim residir em Belo Horizonte, procedente do interior, fui morar na Floresta com pais e irmãos. Antes, meninote, hospedara-me alguns dias no mesmo bairro, na Rua Floresta, que ora deixaria de ser a via modesta, tranquila, que acolhera gente de muitas cidades mineiras. Depois dos anos iniciais, em que Belo Horizonte era tida como a cidade de funcionários, crescia a população estudantil, com rapazes e moças que não frequentavam curso médio na hinterlândia porque lá não existiam escolas de segundo grau. Processava-se uma transformação intensiva e incrementava-se a formação de vilas para abrigar pessoas de todas as regiões, mas sobretudo os que esperavam melhores oportunidades de vida e progresso na nova capital. Até então, nos bairros, eram modestas residências, casas geminadas, bangalôs. Os de maior poder aquisitivo erguiam mansões e sobradões nas imediações da Praça da Liberdade, nos logradouros centrais, em quintas na Serra. Os que vieram com a transferência da sede do Governo, os funcionários, habitavam as construções que lhes tinham sido destinados pelos construtores. Belo Horizonte ficaria circunscrita à Avenida do Contorno. Era o anel urbano, em torno do qual foi avançando a cidade cada vez mais livre das peias do poder público. Formavam-se loteamentos por iniciativa particular, por empreendedores que desejavam quase sempre aproveitar a onda migratória e tirar proveito financeiro. Feita a distribuição dos terrenos, os empresários imobiliários se eximiam, na mais das vezes, dos deveres de abertura de ruas, extensões de rede de água e esgotos, urbanização e saneamento básico etc. A cidade cresceu, ou melhor, sofreu uma inchação de muitas causas, utilizando medicamentos paliativos. A rede fluvial era pobre e o principal condutor de águas o Arrudas. De um tempo a outro, os pescadores, que se assentaram às suas margens para amáveis pescarias, deixavam de aparecer. O ribeirão recebia e carreava os esgotos, com a crescente e variada sujeira das ruas e avenidas. O Arrudas poluía-se mais do que a ganância de determinados empresários. A anarquia imobiliária se generalizava, tornava-se impossível contra a malta dos saqueadores das esperanças das pessoas e das famílias. O poder público municipal se percebia impedido de agir, tantos, tão diversos e poderosos interesses. Uma inchação turva, alteração pela qual a célula aumenta de tamanho e seu contorno se torna irregular, alterações que acarretam evidente tumefação do órgão e modificam seus aspectos habituais? As grandes cidades detinham consigo supostamente, o segredo da Felicidade. Populações crescendo, problemas crescendo mais do que os recursos públicos para conjurar ou resolver os desafios. As vias não comportavam mais os veículos, as galerias e redes de águas e esgotos não suportavam mais a incessante demanda, o Arrudas explodia em enchentes a céu aberto, destruindo e matando. Coisa muito antiga. O engenheiro-chefe de obra de implementação da nova capital já dizia, no longínquo fim do século XIX: “A aglomeração de semelhante população, que não prima pelo amor à higiene, o acúmulo de detritos orgânicos de toda ordem, o solo largamente revolvido “... eram ameaças à saúde. Depois, transformou-se em ameaça à vida. O que acontece em Belo Horizonte não é senão o que em São Paulo e Rio de Janeiro, cujo desmesurado crescimento fez as cidades grandes, megalópoles, mas inservíveis à fruição humana, inabitáveis. Não falo hoje sobre trânsito. Belo Horizonte cresceu para cima e para os lados, subiu as grimpas, expandiu-se horizontal e verticalmente, mas felicidade mesmo ficou lá atrás, muito longe, e não há saudosismo. Impossível retroagir no tempo. Os que criticam os saudosistas, os que querem uma vida melhor sem saber como consegui-lo, reclamam de tudo e de todos, das autoridades, dos crimes contra o meio ambiente, a insegurança, a violência. Como li outro dia: “A cidade de hoje, material e falsamente agigantada e em espírito brutalmente atingido, nem de longe é a cidade dos nossos sonhos, nem dos patriarcas... Perdemo-nos no caminho...”

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