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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 28 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Dois centros de convenções

Waldyr Senna Batista

Quem leu com assiduidade os textos publicados nesta coluna, que trataram do Centro de Convenções, informou-se de que: 1) a Fundetec (Fundação de pesquisa criada pela Sociedade Rural) vem há quatro/cinco anos trabalhando para viabilizar a construção do Centro; 2) do terreno que lhe foi doado pela empresa Eternit, de 300 mil metros quadrados, no Distrito industrial, ela doou 50 mil metros quadrados à Prefeitura, a fim de que o empreendimento pudesse receber recursos do governo federal; 3) R$ 2 milhões já foram liberados pelo Ministério do Turismo para a obra, que já tem projetos arquitetônicos e deveria receber da União mais de R$ 4 milhões; 4) que o Centro faz parte do projeto,de muito maior abrangência, do Parque Tecnológico; 5) que, ao tomar posse, o prefeito Luiz Tadeu Leite posicionou-se contra sua localização no DI, tendo optado por área próxima ao aeroporto(Interlagos); 6) que a decisão jogou por terra todo o trabalho até agora desenvolvido, tendo sido os recursos levados de volta pelo Governo, enquanto a escritura de doação do terreno seria cancelada pelo Ministério Público, que tutela o patrimônio das fundações.
Feito o retrospecto, em que caberia muitas outras informações, recomenda-se ao leitor atento considerar o dito pelo não dito. Voltou tudo ao ponto de partida. O prefeito, depois de acionar seu plano, que teria projeto de Oscar Niemeyer, informou à Fundetec que pode retomar seu trabalho, iniciando quando quiser a construção do Centro de Convenções no Distrito Industrial.
Isso não significa que ele tenha desistido do Interlagos. Este será executado tal como idealizado. O que equivale dizer que, em vez de um, Montes Claros terá dois centros de convenções. O prefeito justificou a reviravolta, afirmando que “não estou aqui para deixar o município perder recursos”.
Uma atitude inesperada, que encobre o motivo verdadeiro. É que, ao afastar a Fundetec do projeto, o prefeito imaginou que pudesse utilizar o terreno do DI, que foi por ela doado ao município, em permuta com o do Interlagos. E despachou para Brasília emissário qualificado para contatos visando a viabilidade da operação, além de avaliar a possibilidade de obtenção de novos recursos.
Em resposta, seu emissário trouxe a informação de que a troca não seria possível, uma vez que o dinheiro liberado, e outras parcelas que se seguiriam, são “carimbados”, com destinação específica e localização determinada.
E o que quase ninguém sabia é que, como parte integrante do projeto do Centro de Convenções, foi liberada verba para a conclusão da Av. Sidney Chaves, de acesso ao Distrito Industrial, obra parcialmente executada na administração anterior. Em razão disso, inexistindo o empreendimento projetado para o DI, não há como o Governo destinar dinheiro para a avenida. A Prefeitura, neste caso, não só não teria como concluir a via de acesso, como seria obrigada a devolver aos cofres públicos federais o dinheiro gasto ali, no ano passado. Para o Governo federal, a Av. Sidney Chaves compõe o projeto turístico do Centro de Convenções. Tanto assim é que os recursos saíram do Ministério do Turismo, ao tempo do ministro Walfrido Mares Guia.
Isso colocou o prefeito Luiz Tadeu Leite numa saia justa: se insistir no veto à área do Distrito Industrial, perderá recursos expressivos para a cidade, e também teria de abrir mão do seu projeto no Interlagos. Acabou optando pelo inesperado: a cidade, por incrível que pareça, vai ter dois centros de convenções.
Uma decisão, por assim dizer, salomônica, mas de altíssimo risco. Como os dois empreendimentos só se concretizarão com recursos oficiais, resta saber como o Governo federal irá encarar essa duplicidade, num momento de crise mundial em que tanto se recomenda racionalidade na aplicação de recursos públicos.

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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