Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: APOIO MORAL


Transcorria a Segunda Grande Guerra e a pacata população da nossa campesina Montes Claros contribuía doando utensílios de alumínio que eram arrecadados na Praça Coronel Ribeiro e enviados para fundição das Forças Armadas, por via férrea. A cidade recebeu a notícia do seu primeiro herói morto em combate, o cabo Santana, expedicionário abatido num fogo cruzado na tomada de Montese, na Itália.
O escritório local do DER, estava instalado no prédio dos Alves na Praça Doutor Carlos esquina com rua XV, hoje Presidente Vargas, point central da cidade onde à noite havia o footing de rapazes e moças além do cabaré de Sinval Amorim. No dizer do cronista Rubem Braga: fervilhava como um nigth club da Broadway.
Dentre as salas ocupadas pelo DER havia um almoxarifado. Na cidade ainda provinciana, os funcionários iam chegando desde muito cedo e se reuniam a passantes naquele logradouro, onde trocavam diariamente dois dedos de prosa até que todo o efetivo estivesse completo. O nosso notável José Romualdo liderava um grupo, toda manhã.
O último a chegar, sempre as nove da matina, era o Leônidas Mesquita, um jovem topógrafo, o mais elegante de todos os rapazes da cidade. Exageradamente bem vestido, calças de tusô, ou de tropical inglês, camisas de seda ou voil, gravatas berrantes, sapato italiano bico fino de duas cores, cabelo untado de brilhantinas Glostora. Grossa corrente no pescoço e pulseira de ouro, além de anéis de brilhantes em ambas as mãos. Um visual que sugeria a mítica figura de um cáften, um rufião, ou um malandro carioca.
Os colegas que se reuniam na praça viviam a lhe dar conselhos, muitos por pura inveja, que a qualquer hora ele poderia ser confundido com um malandro de passagem pela urbe e se dar mal. O vício do conselho. Fica aqui a reflexão do escritor Tião Martins: será que há especialistas nessa matéria fugidia que é o ser das gentes?
Certo dia, o capitão Coelho delegado de polícia recebeu um teletipo dando conta e descrevendo a figura de um elegante escroque oriundo de São Paulo, que estava na nossa cidade para aplicar um grande golpe. A missão da captura foi passada ao investigador Altinim que, inadvertidamente, respondeu: pela descrição já sei quem é. Deixa comigo!
Leônidas vai à noite com a namorada ao cine Montes Claros e à porta Altinim apareceu de repente sujigando-o pelo pescoço, o algemando, derrubando-o ao chão para espanto dos presentes e da namorada! Conduzido até à delegacia passou a noite algemado ao banco da entrada, pois o capitão Coelho viajara em uma diligência e só voltou no dia seguinte, pela manhã.
Exposto ao escracho da visitação pública, desmoralizado perante a população e sem receber a ajuda esperada da família da namorada, que se quer comunicou aos colegas de repartição onde trabalhava a desdita do Leônidas. Ficou à mercê da sorte. Às seis da manhã, com a chegada do delegado, foi dispensado com um formal pedido de desculpas.
Acabrunhado, cabisbaixo pela humilhação recebida á vista de todos à porta do cinema e na sala de espera da delegacia, Leônidas, desceu a rua no sentido da Praça Doutor Carlos, no centro, onde certamente estavam os colegas do DER, que, pensava lhe dariam o esperado apoio moral. Chegou e relatou o fato aos presentes, dando-lhes conta do seu infortúnio.
Ao invés do esperado apoio moral que necessitava naquele momento de dor, se deparou com colegas que novamente o espezinharam, cobrando dele o fato de não ter recebido e seguido os conselhos quanto a sua aparência excessivamente elegante e aberrativa.
Como estava sob a égide de um dia de cão, Leônidas, estupefato por não ter encontrado apoio com quem presumia encontrar, se sentiu o menor homem do mundo naquele instante e em seguida tomou um rumo ignorado.
Leônidas nunca mais foi visto em qualquer escritório do DER. Todas as buscas feitas em busca do seu paradeiro se revelaram infrutíferas.
José Romualdo, até os dias de hoje se emociona quando se lembra do companheiro desafortunado, que o destino levou para sempre o fazendo sumir do mapa sem ao menos receber o pagamento do mês...

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima