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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Registro de maio
Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´

Maio é um mês especial para os brasileiros, sobretudo do interior, com arraigadas tradições que se expandem através do tempo. Já o foi mais, quando a influência da comunicação, principalmente da televisão, não introduzira nuanças novas em centenários costumes. Quinto mês do ano romano, o dia 1º era festejado desde tempos imemoriais, para, enfim, se transformar no Dia do Trabalho, que ora se caracteriza pelo nada fazer, em muitos países. Nele se promovem manifestações por melhores condições de vida e salários mais dignos aos que vivem do labor. No Brasil, é encantado, mágico. Nas cidades interioranas, há ainda a coroação à mãe de Cristo nos templos, quando meninas cantam hinos e jogam flores na imagem de Maria, costume que se vai esvaziando nas cidades de porte. Belas canções assinalavam os dias de maio, quando se começa a sentir a brisa que anuncia o frio de junho. O professor Mello Cançado, de Direito Romano, ex-secretário de Estado da Educação, redigia para o antigo “O Diário” lindas crônicas sobre esse tempo de amor e beleza, de reunião das famílias, no templo ou no lar. De maio, dia 27, foi minha irmã, a única, tão cedo desta vida partindo; ela que repetindo Alvarenga Peixoto - “Se o Brasil fosse um reinado, poderia ser princesa”. No dia 25, completa-se um década de minha genitora. Em maio, há o Dia das Mães, agora marcado pelo ímpeto comercial, mas que não consegue apagar o significado sublime da maternidade, cantado em verso e prosa por bons autores. É o mês das noivas, celebrando um solene compromisso com o futuro, na confiança no amor eterno e perene felicidade. Tempos outros os de hoje. Nem mais se admira a lua, escondida detrás dos arranha-céus. Em nossos dias, a poesia não mais corresponde aos bons sentimentos porque a vida, multiforme e absorvente, violenta na sua tragédia e na sua vertigem, pede novas maneiras de expressão, como sentenciavam os modernistas em 1922. Então, dizia Menotti: “Nosso sentimentalismo arcaico nos relega, às vezes, às baladas, às pastorelas, na repetição perene de uma mesma tonalidade cromática e sonora, como se o passado fosse o grande sino tangido pelos gênios de outrora e vivêssemos eternamente da sua ressonância, dos seus ecos e da saudade dos seus ecos”. Mas o sentimentalismo ainda tange almas e se procuram nas noites de ruído extremo, descobrir o que achávamos, naturalmente, nas noites em que os enormes edifícios ainda não impediam belos retratos da natureza. Sentíamos como Augusto dos Anjos: “Para onde fores, Pai, para onde fores,/ Irei também, trilhando as mesmas ruas.../Tu, para amenizar as dores tuas,/ eu, para amenizar as minhas dores!”
Este mês, por múltiplas razões, e de todos por motivos mais amplos, não admite escapar-se aos versos de Augusto de Lima, o nome aureolado: “Plenilúnio de maio em montanhas de Minas! Canta ao longe uma flauta, e um violoncelo chora. Perfuma-se o luar nas flores das campinas, sutiliza-se o aroma em languidez sonora”.
Quando chega o crepúsculo, mede-se o passado e o futuro restante e, com humildade, acompanha-se Danilo Gomes, para sempre de Mariana: “Passarei sem alarde como o vento/sobre ardósias e falésias/ e as penedias da ilha gris de Santa Helena/ sufocado pelo som do mar oceano/ e mergulhando em perpétuo silêncio”.

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