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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: MOZART DAVID E SUAS MEMÓRIAS

José Prates

No Centro Cultural Hermes de Paula, em Montes Claros, no dia 23 de abril passado, foi lançado o livro-documentário da vida e obra de Mozart David, autoria de Zoraide Guerra David, escritora membro da Academia Montesclarense de Letras, jacaraciense de Boa Vista que virou Tabajara e mudou para Mortugaba, lugar que eu conheci na minha infância. Não fui ao lançamento, nem tampouco, sabia que esse livro havia sido escrito. Fiquei contente em saber, pelo que a memória de Mozart David representa para nós, filhos da terra. O convite que me foi feito por Kátia, chegou atrasado, culpa da internet, o que lamentei.
Eu vivi a infância, naquela Jacaraci que ainda está em mim, como parte integrante do que sou. Eu conheci parte do tempo de vida de Mozart David, “seu” Mozart, como lhe chamavam. Esposo exemplar da Professora Dona Julieta; pai de Yeda, Julizar, Gutemberg e Vanda, pessoas que há muito não vejo. “Seu” Mozart o prefeito capaz e interessado, o político inteligente que sempre estava do lado partidário daqueles que pudessem atender aos interesses do seu município, satisfazendo as suas necessidades. Na ditadura getuliana, era amigo do interventor do Estado. Conheci e convivi com “seu” Nozart o intelectual, grande orador que empolgava a massa posta à entrada de seu “palácio” para lhe dar as boas vindas, quando regressava da Bahia – era assim que chamavam Salvador – na luta pelas coisas do seu municipio; admirava “seu” Mozart, o artista plástico, autor da pequena estatua de um menino, dominando a fachada do teatro municipal, sua criação; o autor de quadros expressivos que decoravam o Teatro e salas da Prefeitura, dignos de elogios e admiração. “Seu” Mozart o arquiteto que planejou e desenhou o prédio novo da Prefeitura que se instalou na Rua do Fogo; “seu” Mozart o paisagista que planejou e transformou o espaço da velha “cadeia” em bonita praça ajardinada; o homem que criou o Parque Municipal com grande área de lazer e bonito banheiro publico com água corrente. Era, também, o fazendeiro, dono da fazenda Transval onde fazia produzir a aguardente Transvalina, famosa pelo seu sabor diferente.
Existem pessoas e fatos que influenciam psicologicamente na nossa formação, ás vezes, inconscientemente, criando em nós um desenvolvimento mental que pode nos levar ao desejo de sermos iguais em capacidade ou maneira de agir, daquelas pessoas. A minha admiração e o respeito por “seu” Mozart levou-me ao desejo de ser igual a ele e quando criança eu o imitava nos discursos e na parede do muro de nossa casa, fazia pinturas procurando imitar a sua arte. Foi sempre uma pessoa que esteve em minha lembrança como um exemplo de força de vontade e capacidade intelectual rara. Não fez que eu soubesse, nenhum curso superior, mas sempre esteve à altura de qualquer um, com a desenvoltura de um intelectual. A oratória foi um dom dado por Deus como instrumento para condução de seu povo, como o cajado do pastor; criativo decorador, decorou a sala do teatro com pinturas agradáveis, dignas de um mestre. Que eu saiba, nunca estudou pintura. Auto didata em tudo. Uma pessoa como “seu” Mozart, com quem se vive em constante contacto numa cidade pequena, tomando conhecimento imediato de todos os seus atos e procedimentos, principalmente como homem público, é capaz de influenciar de maneira positiva na formação da juventude que está a seu redor, de acordo, obviamente, com a tendência ou vocação de cada jovem. Essas pessoas são raras, não é comum vê-los por ai, principalmente nos dias em que vivemos, quando os interesses próprios fazem desaparecer os Mozares da vida com sua grandeza de proceder e agir.
A última vez que estive com ele foi por volta de 1952, em Montes Claros, quando, por minha solicitação, concedeu uma rápida entrevista ao nosso jornal. Ao que me consta, casou-se em segundas núpcias com uma das filhas de Didi, meu primo, neta de tio Antonio Julio.

(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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