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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Professora não tem vez

Ruth Tupinambá Graça

Revolta-me o descaso, a maneira como o nosso Governo trata as professoras, principalmente as do primeiro grau.
Entristece-me sentir que cada dia que se passa estas criaturas são humilhadas, mal remuneradas, sem nenhuma esperança de melhora.
É inegável o quanto elas trabalham numa sala com 45 (ou mais) alunos de todas as idades, tipos, raças e cores, numa abnegação (que só Deus poderá recompensá-las) procurando incutir nestas cabecinhas, o amor ao próximo, a lealdade, a dignidade o bom caráter da pessoa humana, enfim a cidadania.
Desgastam-se e muitas vezes adoecem na luta e preocupação de transmitir aos alunos um Programa de Ensino um tanto exagerado.
Estas criaturas descortinam um horizonte mais belo mais puro mais saudável para estas crianças que vivem como “fantoches” (principalmente neste século) influenciadas por um meio de violência e corrupção. Graças a elas muitas se salvam e chegam a ser adolescentes equilibrados conseguindo alcançar a Faculdade, seguindo melhores destinos, pois sabemos que, o Curso Primário é a base para a instrução, é o primeiro degrau da escada para se galgar e chegar ao topo vitorioso. Um primário bem orientado, bem aproveitado pelo aluno lhe dará, na certa, um grande sucesso nos outros Cursos que enfrentará no futuro.
Mas infelizmente poucos reconhecem o sacrifício e o valor de um professor.
Por incrível que pareça, o Governo quer tirar-lhes alguns benefícios (motivo de economia) inclusive o “pó de giz” que é uma verba destinada ao tratamento de garganta e alergia caudado, (as regentes de classe) pelo uso constante do quadro negro.
Estas reformas da Secretaria de Educação, só prejudicam além de criar exigências (Pós Graduação, Mestrado, etc,) para o plano de carreira. Ganhando tão pouco como poderão costeá-los? O certo seria o Governo promover tais recursos gratuitos para melhorar a situação dos professores.
Este sofrimento já vem de longa data. Eu me lembro quando comecei a lecionar. Não existia a Delegacia de Ensino (que muito facilita os trabalhos da nossa Região) e o nosso pagamento atrasava porque os nossos atestados de freqüência tinham que ir para a Secretaria de Educação e só recebíamos depois de publicado no Minas Gerais, ato que demorava meses até um ano. Muitas professoras não podiam esperar, tocavam os atestados de freqüência (com negociantes ou procuradores) e recebiam com desconto.
Sofremos demais naquela época. Só no Governo de Magalhães, Pinto que, reconhecendo nossas dificuldades, normalizou nosso pagamento com menos atraso, mas enfrentando filas enormes. Isto durou muitos anos.
Agora, graças ao nosso governador Aécio Neves, nosso pagamento está em dia, e nos dias certos, com décimo terceiro. Foi uma grande vitória.
A nossa esperança é que ele melhore a situação do professor, na proporção que ele merece.
Quanto ganha um Deputado? Sabemos que é um salário invejável e ainda muita mordomia.
Por acaso trabalha mais que uma professora primária que com chuva ou sol, tem que cumprir diariamente o horário, muitas vezes doente, pois nem sempre os médicos facilitam-lhe uma justa licença.
Elas lutam, esperneiam, fazem greve são humilhadas e até escorraçadas, (com banho de mangueira) o que já aconteceu na porta do Palácio do Governo de Minas gerais alguns anos atrás.
Tal procedimento, tanto descaso dá para entender o que?

Membro da Academia Montesclarense de Letras
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

(N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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