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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Maria da Cruz Porto Carreiro

Muito ainda se tem que pesquisar sobre a vida e a obra de Maria da Cruz, todavia, os fatos históricos precisam ser buscados na sua origem, vistos por olhos desprovidos de paixão ou interesse. Qualquer pesquisador menos avisado, por exemplo, que pretendesse reviver a saga de Antônio Dó pelos relatos oficiais da Polícia Militar, registrados nos arquivos em Belo Horizonte, iria considerar o massacre da Vargem Bonita, no município de Januária, de forma diversa da verdade. O oficial responsável pela diligência fez o seu relato para justificar sua barbárie e por sua informação, constante dos arquivos da Polícia Militar, ter-se-ia como verdade que “como acontecera em Canudos anos antes e tal como também sucedera no reduto de Germano Dias, os sertanejos de Vargem Bonita não se entregaram. Morreram como valentes, como homens. Combatendo e de armas nas mãos”. Não é verdade. Mais correta é a versão de Saul Martins: “Felão deu ordem para atearem fogo às casas, que eram cobertas de palha de buriti, a fim de escorraçar os “bandidos”, que se ocultavam nelas. (...) As casas eram ocupadas pelos respectivos donos e suas famílias, moradores do lugar, e não bandidos”. Não houve resistência por parte dos habitantes do lugar.
Assim também não se poderá ver a Conjuração do São Francisco de 1736 apenas pela ótica dos relatórios do governador Martinho de Mendonça, contra quem se rebelaram os são-franciscanos, porque ele não tinha, nem podia ter, conhecimento das razões subjetivas dos barranqueiros, nem com eles conviveu ou manteve entendimentos ou contatos anteriores aos fatos. Como também as atrocidades perpetradas durante a Santa Inquisição não poderão ser conhecidas pelos relatos oficiais da Igreja.
Escrevendo sobre Maria da Cruz, em artigo outro, afirmei que “a poesia de José Gonçalves de Souza marca sua vida; Augusta Figueiredo, em “Maria da Cruz e o Velho Chico”, fixa passagem de sua profícua existência, mas pouco, muito pouco, sobre ela se escreveu até agora. Diogo de Vasconcelos, em sua “Historia Média de Minas Gerais”, é quem melhor informa sobre sua vida. A ela dedicou Antônio Emílio Pereira pouco mais de uma página em seu livro “Memorial Januária – Terra, Rios e Gente”.
Agora, tenho em mãos o livro “Alvará de Perdão Concedido a Dona Maria da Cruz, Viúva”, obra de fôlego, de aprofundadas pesquisas, de autoria de Giselle Fagundes, com belas fotografias da região do São Francisco de Nahílson Martins. Com ele, com o livro de Giselle Fagundes, efetivamente podemos repetir, com Diogo de Vasconcelos, que Maria da Cruz foi retirada da fria e apagada cova do esquecimento.
Tinha dúvidas sobre o seu verdadeiro nome que seria Maria da Cruz Porto Carreiro ou Maria da Cruz Torre Prado de Almeida Oliveira Matias Toledo Cardoso. Para Giselle Fagundes, com fundamento em documentos de valor histórico por ela pesquisados, o nome correto da heroína sertaneja é Maria da Cruz Porto Carreiro.
O livro de Giselle Fagundes é rico pelo valor das pesquisas e relatos fundamentados em documentos, por ela coletados na fonte e as fotos não só dos lugares, mas também de alguns documentos, enriquecem o texto. A árvore genealógica de Maria da Cruz ficou bem definida, assim como a sua participação nos “Motins do Sertão”, que prefiro chamar “Conjuração do São Francisco”, mas o livro não nos apresenta o que ainda precisa ser pesquisado, para fixação efetiva da memória, a obra colonizadora de Maria da Cruz. Ninguém melhor do que Giselle Fagundes para, completando seu maravilhoso trabalho, resgatar tão importante passagem de nossa história.
Diogo de Vasconcelos, em sua “Historia Média de Minas Gerais”, esclarece que “em seus domínios ela possuía teares de algodão, curtumes e oficinas de couros, tenda de ferreiros e carapinas, escolas de leitura e de música, além de armazéns de fazenda”.


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