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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Hermes e Fina

Virginia de Paula

Nasceram um para o outro. Seus pais sempre o souberam. Falavam sobre um possível casamento, em tom de brincadeira, mas, era o que queriam. Naquele tempo, o casamento entre primos era comum. Eles não pareciam interessados. Ambos tiveram outros romances e Hermes chega a noivar outra. Apenas quando retorna de Niterói, formado em medicina, a ficha cai. Foi assim: conversando com um amigo, percebe que este estava á procura de uma namorada. Hermes então, começa a tecer elogios a Fina, uma moça bonita, inteligente, prendada, sem defeito algum! De repente, pára de falar. E pensa: “Se é tão perfeita assim, porque não fico com ela?” Corta a conversa. Estava decidido. Dia seguinte, procuraria pela prima. Em plena tarde, Hermes se apronta elegantemente, tomando a direção da Rua de Baixo, como era conhecida a Padre Teixeira, onde Fina morava. Passando na porta dos Correios e Telégrafos, eis que lá vem ela subindo a Justino Câmara. O encontro acontece no meio do caminho. Hermes a convida para sentar num dos bancos do jardim da praça. Fina fica surpresa com o convite. A surpresa maior vem a seguir. Hermes vai direto ao assunto. “Quer casar comigo?” A resposta foi no mesmo estilo. Sem rodeios. “Só não caso agora porque falta o vestida de noiva.” “Então aperta aqui”, diz Hermes lhe estendendo a mão, firmando o compromisso. Posso imaginar as expressões dos dois. Sorridentes, brilho nos olhos, felizes. Mas, ainda faltava uma coisa: o pedido oficial, feito em seguida, enchendo de alegria os pais de ambos. Marcam a data do casório: 19 de junho de 1941, aniversário de Fina. Alianças feitas pelo pai da noiva, Olímpio de Abreu, ourives. Durante o noivado, Hermes vai até a casa da noiva todas as noites, saindo após tomar o chá com leite, preparado com carinho por Dona Lica, a sogra. Finalmente, chega o dia 19. O vestido, confeccionado pela costureira Natália Peixoto, sai do padrão. Hermes tinha visto uma noiva de cor de rosa no Rio de Janeiro e achado uma lindeza. Assim, sem ligar para a tradição do vestido branco, Josefina entra na capela do Rosário, como uma princesa: vestida de rosa. Quem viu jamais se esqueceu. Após a cerimônia, vem a recepção na casa dos Abreu. Na mesma noite, Fina deixa a casa dos pais para morar em casa dos sogros, Basílio e Joaquina, sem se importar por não ter ainda a sua casa. Afinal de contas, Hermes estava a seu lado. Por um ano, vivem ali. Mas, Valéria, a primeira filha, já nasce em outra casa, onde funciona também o consultório e laboratório (o primeiro da cidade) do Dr. Hermes. Mais três filhos chegam. Vivem todos, intensamente felizes, na casa da Simeão Ribeiro . Fina costura, borda, cuida dos filhos, acompanha o marido em tudo, e canta. Hermes também canta. Porém, sem boa voz. Já Fina, é como um passarinho. Posso vê-la na sua máquina de costura, cantando: “Quando alegre partiste, tu me deste uma rosa...” Em 54, a família muda-se para uma bonita casa na Dr. Veloso, enquanto aguardam pela nova residência. Quem passa por ali, pode ouvir a voz de Fina cantando em espanhol. “ Mira como ando mujer por tu querer...” E ouvir a risada forte e contagiante de Hermes. Música e riso: para que maior sinal de felicidade? Em 55, vão para a casa nova, projetada por Hermes com a ajuda de Fina. Se antes já viviam promovendo eventos, imagine agora, com casa espaçosa dentro de uma chácara, carinhosamente chamada “Chacrinha”. Pode-se dizer que construíram um clube social, à disposição de todos. Hermes, cabeça fervilhante de idéias, - um clube campestre, uma capela, uma escola de medicina – tem em Fina a parceira ideal para a execução do que sonha. Chegam a trabalhar juntos na clínica. Quando Hermes dá início a seu livro sobre a cidade, Fina é convocada. Nascida na rua “Rua de Baixo”, celeiro da cultura popular, torna-se “consultora” na parte dos costumes da gente montes-clarense. Ela sabe tudo. Sempre cantando: “Amo-te muito, como as flores amam...” Por isso, quando Hermes cria um grupo de seresta, ela é logo “contratada”. Com esse grupo, que veio a ser o Grupo de Seresta João Chaves, realiza-se um desejo de ambos: divulgar nossas tradições musicais pelo Brasil. Chegam até a Argentina! Ela cantando, ele apresentando. Gravam oito discos. E, em 80, fundam o Centro de Tradições Mineiras, no próprio lar. Mas, em 83, Hermes a deixa, para morar no “andar de cima”. Fina sofre com a dor da saudade. De repente, entende o que deve fazer: prosseguir com o grupo de seresta e o C.T.M., assumindo a direção do primeiro e a presidência do segundo. Hoje, não existe mais o CTM, lamentavelmente. Mas a seresta continua. E Fina, aos 88 anos, ainda solta a voz. Quem não se emociona ao ouvi-la cantando que o “sereno cai no capim?” Com certeza, onde estiver Hermes também se emociona, e confirma aos anjos, o que disse a um repórter, em resposta à pergunta sobre quais as três coisas mais importantes feitas por ele. “Ter estudado medicina, ter criado o Grupo de Seresta, ter casado com Fina.”

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