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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 6 de outubro de 2024
 

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Mensagem: Memória do Barão de Grão Mogol pede resgate

Alberto Sena

O memorialista Geraldo Ramos Fróis se encontrava em Grão Mogol sentado à mesinha do escritório do viveiro de mudas de plantas diversas, alegria maior dele, instalado na Rua Hilário Marinho, em frente ao Presépio Mãos de Deus, quando foi instado a contar sobre a vida do Barão de Grão Mogol, Gualtér Martins Pereira, importante personagem da história do Brasil, cuja memória devia ser conhecida e destacada.
Fróis, de 77 anos, discípulo da grande educadora Helena Antipoff, retirou os óculos escuros resultantes de uma cirurgia nas vistas, pensou sobre o que ia responder e começou a falar do barão a partir de quando o pai dele, Caetano Martins Pereira comprou uma fazenda chamada Santo Antônio, cujo nome foi mudado depois para fazenda Cafezal (veja foto da sede) onde o barão nasceu e viveu cerca de 50 anos. Depois ele se mudou, em definitivo, para o interior de São Paulo.

HOMEM BOM

“Gualtér Martins Pereira era um homem bom, mantinha mais de 100 escravos, mas tinha espírito humanista, abolicionista, tanto que três meses antes da Lei Áurea, libertou todos os escravos”, afirma Fróis. Ele foi juiz de direito de Rio Pardo de Minas, Vale do Jequitinhonha. Quando foi assumir o posto de juiz, encontrou um homem condenado à morte. Anulou o julgamento, fez outro e o condenou à prisão perpétua. Poupou-lhe a vida.
O barão teria feito um acordo com os escravos, para calçarem a trilha de 15 quilômetros, da fazenda Cafezal até Grão Mogol. Dos diamantes encontrados no percurso 30% seria dele e 70% dos escravos. “Quando vinha a Grão Mogol, o barão ficava na casa onde hoje funciona a Secretaria Municipal de Turismo, na Praça Coronel Janjão”, ao lado da Rua Cristiano Relo, historicamente denominada Rua Direita. Foi ele que, usando a mão de obra escrava, tornou a trilha menos perigosa.
“O barão ia e vinha a Grão Mogol a pé ou a cavalo; não havia liteira”, assegura Fróis, e continuou puxando o fio de uma meada histórica não devidamente apurada, registrada e valorizada e que agora corre o risco de desaparecer como a casa dele na fazenda Cafezal desapareceu sem deixar vestígios, a não ser uma pintura, que pode muito bem ser chamada de relíquia.
Aconteceu ao barão de três escravos fugirem. Dois a três meses depois reapareceram. Foram acolhidos e ele lhes disse: “Vocês já estão castigados por terem voltado e se humilhado”.
A Casa da Cultura, na Rua Hilário Marinho, no Centro Histórico, toda de pedras, foi ele quem mandou construir para servir de hospital. O irmão dele estudava Medicina e ao se formar teria um lugar para clinicar. Funcionou como Santa Casa, sob uma condição: “Quem não tiver como pagar receberá tratamento gratuito”.

RECUSA DO TÍTULO

Com patente de coronel, Gualtér recusou o título de barão dado por Dom Pedro II, por ser republicano, mas o rei não aceitou a recusa. Eles teriam trocado algumas palavras, nesses termos:
- Majestade não faço jus ao título de barão, tenho ideias republicanas.
Respondeu Dom Pedro:
- Não agracio a um homem de ideias republicanas, mas um grande brasileiro.
O coronel Gualtér foi elevado a barão porque organizou o 7º Batalhão de Voluntários da Pátria, em 1865, para lutar na Guerra do Paraguai, ao qual incluiu quatro de seus irmãos, vários parentes e escravos da fazenda Cafezal e de Lençois (BA), onde mantinha negócios. Eram cerca de 200 pessoas ao todo e as levou, fardadas e armadas à sua própria custa. O ato chamou a atenção de Dom Pedro II, que lhe concedeu o título de barão. Aos escravos, ele prometera liberdade. Mas não se sabe se algum voltou vivo da Guerra do Paraguai pra contar a história.

LÁUREA DEVIDA

“O barão ainda não mereceu da história pátria a devida láurea pelos serviços que prestou ao Brasil, a não ser o batismo da Serra do Itacambiruçú com o nome de Serra Barão do Grão Mogol”, registrou o escritor Mário Martins de Freitas, em 1957, no livro “O Município de Grão Mogol”. Livro que nem conseguiu publicar. Morreu.
“O barão gozava de alto conceito na corte de Pedro II, não fez curso superior, era destemido, teve 78 filhos”, conta Fróis, limpando os óculos escuros na camisa. A maior parte dos filhos com escravas.
Depois de ajeitar os óculos, agora limpos, e o boné na cabeça, Fróis se lembrou do “sério desentendimento do barão com um padre na hora de batizar uma sobrinha dele”. O padre perguntou:
- Qual o nome da criança?
O pai respondeu:
- Aurora.
O padre redarguiu:
- Com esse nome eu não batizo.
Ao que o barão interveio juntando as botas:
- Em nome não se mexe. Batiza-se.
E enquanto o padre saía da igreja o coronel barão aspergia a cabeça da criança com água benta.
- Está batizada – disse.
O barão saiu da igreja com ganas de pegar o padre pelo pescoço. A recusa estaria ligada ao fato de “Aurora” ter relação com a Marçonaria.

PEDIDO DO BARÃO

Outro amante de Grão Mogol sabedor do saco de bondades do barão é o administrador de empresas Geraldo Gonçalves. Nascido em Florestal (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte, ele é ex-funcionário do Banco do Brasil e trabalhou como gerente na agência de Grão Mogol, no período de julho de 2002 a janeiro de 2006.
Segundo Gonçalves, “pelas histórias ouvidas sobre o barão, creio não ter havido tanto sofrimento e nem chibatadas na construção da trilha, pois de acordo com estudiosos do assunto, o barão era muito bondoso com seus escravos e até pediu, em vida, que o enterrassem no mesmo cemitério em que foram enterrados seus escravos”.
Baseando-se nessa versão sobre a bondade do barão, Gonçalves considera “muito difícil que tenha feito o uso da chibata e que tenha sido carregado em liteira pelos escravos”. Mas não nega a possibilidade de ter havido “sofrimento”. E completa: “Pode ter havido sim, devido à natureza do serviço e da falta de técnicas próprias naquela época”. (Leia na próxima inserção o possível traslado do corpo do barão, de um canavial de Rio Claro (SP) para Grão Mogol, sua terra natal).

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