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Mensagem: Vapabuçu, dúvida histórica Hoje em Dia - Manoel Hygino A história impõe desafios às vezes intransponíveis. Mérito maior do pesquisador/historiador, que não se desvia do ofício, é reconhecer que sua missão pode ser incompleta, precária, até de vida curta. O primeiro parágrafo sintetiza, por exemplo, um episódio da crônica mineira. Fernão Dias Pais Leme foi para o Norte de Minas em busca de índios para prear, de ouro e pedras preciosas. Quanto a essas, o sonho eram as esmeraldas, sobre as quais se comentava desde o “Tratado Descritivo do Brasil”, de 1587, atribuído a Gabriel Soares de Souza. Sem esquecer os sertanistas Antônio Dias Adorno e Marcos de Azevedo, este em 1611. O desbravador de Taubaté chegou enfim a Itacambira. O livro primeiro da Receita da Fazenda Real de Minas das minas de Serro Frio, todavia, em registro de 15 de março de 1702, referiu-se às “minas de Santo Antônio do Bom Retiro do Serro Frio, hoje Itacambira, descoberta pelo guarda-mor Antônio Soares Ferreira. Informava-se que junto à Lagoa do Vapabuçu poder-se-ia extrair as pretendidas gemas. Vapabuçu, Upabuçu é corruptela de Yupaha-ocu, com o significado de “lagoa grande”, entrando o vocábulo tupi no vocabulário dos estudiosos, dos estudantes e dos curiosos. Assim, classificar a palavra Vapabuçu ou assemelhado de lagoa é ocioso, pleonasmo, embora comum. Com idêntica designação há também várias. Em Sete Lagoas, na região Central, por exemplo, mas o nome hoje é de um bairro da cidade. Uma terceira fica no curso do rio Boacica, no Nordeste, referida pelo estudioso Levy Pereira, mas que não passa presentemente de uma área de alagadiços. Fui a Itacambira para conhecer a cidade, a sua histórica igreja, a serra Resplandecente, Vapabuçu, a operosa população, tudo enfim que existe de bom e belo. Lagoa infelizmente, já não encontrei, a não ser uma depressão vazia. Tudo semelhante ao que o primeiro bispo de Montes Claros, Dom João Antônio Pimenta, vira e descrevera em 1926. Seria aquilo o que restou da descoberta pioneira, das lavras antigas? Aí, ouvi dizer e conferi que em Minas Gerais, na região Leste, um distrito na cidade de Santa Maria do Suaçuí, de nome Poaia, também dispõe de uma Vapabuçu. Fernão Dias por ali teria estacionado sua bandeira quando em busca das pedras preciosas e contraiu febre amarela. Os fatos se assemelham, mas o local é diferente. Esta lagoa, com 27 alqueires, mesmo na época de seca, se mantém estável. Turistas a visitam e a conhecem, ouvindo dizer ainda que o bandeirante vasculhara esmeraldas e encontrara a morte. Indago-me: enfim, a verdadeira lagoa de Fernão Dias é a de Itacambira ou a de Santa Maria do Suaçuí, embora haja grande distância entre as duas? Fernão Dias se teria perdido no interior do sertão mineiro ou nós estamos deambulando? A dúvida shakespeariana pode ser válida nas próximas comemorações dos 600 anos do poeta de Stratfordu- pon-Avon, em 2016. Enquanto se discute o achado do valoroso bandeirante, conviria estudar a construção de um complexo turístico-pedagógico em ambas as cidades, cuja receita beneficiaria seus cofres públicos talvez combalidos. Nem só de esmeraldas e sonhos vive o homem, carente e desejoso dos bens que a sociedade moderna disponibiliza.
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