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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 2 de novembro de 2024
 

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Mensagem: ELOGIO AOS LOUCOS!

Não estou fazendo sátira e nem pilhéria; pois como diz a sabedoria popular: de palhaço, de rei, de médico e de louco, todos nós temos um pouco. Isto indica que a vida tem duas faces diversas.
Muitos são os autores e filósofos, mesmo os clássicos, que falaram do tema da loucura ao longo da história. Guerra dos ratos e das rãs, o Mosquito, Ulisses e Grilo. E um ilustre desconhecido que escreveu o diálogo de um porco chamado Grúnio Corocotta.
Os loucos, ou tantãs, como eram chamados e ainda o são, povoaram a minha infância. Barulhentos, apalermados ou agressivos, circulando no centro comercial, na Rodoviária e na Estação Férrea dos Montes Claros de antanho. Vieram trazidos de outras cidades, donde foram expulsos sem direitos e lançados nas nossas ruas. Sem piedade, como um lixo humano.
Muitos deles construíram, e mesmo fizeram parte da nossa história, alguns foram até eleitos como políticos, de paletó e gravata. Ajudaram a povoar de medos e temores as minhas emoções da infância. Pude compreendê-los ao ler o Elogio à Loucura, de Erasmo de Roterdã. Dei-me conta de que a insanidade mental pode ser sinal de genialidade, de coerência, e mesmo de sabedoria. Relata-nos Fromm: As vítimas de doenças mentais realmente arruinadas encontram-se entre os que parecem normais.
Os loucos vão da terra para a lua ao sabor das suas imaginações.
As janelas do meu inconsciente foram abertas ao ler as histórias fantásticas de Poe. Acompanhando a descrição da Atlântica, no Timeu de Platão. Lendo os sete volumes da Doutrina Secreta de Blavátsk, e dela também, a tradução do poema épico dos iniciados tibetanos; As Estâncias de Dziam, em que consta a loucura do Criador, ao fazer manifestar e nos legar este planeta insano, no qual habitamos em nome da evolução.
Eles, os chamados lelés da cuca, ficavam nas entradas das fazendas de antigamente enquanto transcorria a era do romantismo e eram considerados patrimônio da casa onde moravam. Podíamos vê-los desfibrando a tenra palha do milho para pitar o paieiro. Tomando café com rapadura no interior das cozinhas, onde escutavam, sem entender no racional das suas mentes, os relatos da vida íntima dos donos da casa, com suas loucuras e as máscaras de falsidade dos que se diziam normais.
Esses registros repassados em seus inconscientes de forma inconseqüente são como o relato de Panomina: retidos da mesma forma que a eternidade usa para registrar o sangue derramado por um mártir, ou o ato de um vil!
Na reflexão dos Estóicos, entretanto, ser louco é deixar-se levar pelas emoções.
Pela doideira da vida, tentando dominar os meus temores e medos, aprendi a decodificar as loucuras alheias, observando o semblante das pessoas. Erasmo diz que; tudo que o louco trás na alma está escrito no rosto.
Já adulto observo um mundo de loucos buscando um panegírico milagroso, Um planeta entupido de dependentes exógenos, que carregam dentro de si a Bela e a Fera. Uma geração entorpecida, inebriada, construindo verdades falsas, aparências, e sob o estupefaciente das emoções efêmeras e das roupagens multicoloridas do Ego-Cambaleante. Falsos moralistas atormentados pelo pecado da carne!
Dormimos, enquanto a química dos medicamentos hipnóticos ingeridos nos conduz a portais dantescos, a realidades oprimidas pelo pensamento seletivo, a mundos construídos de bolhas coloridas. Bem razão tinha Calderon de La Barca, ao se perguntar: a vida, sonhos são?
Romperam-se as fronteiras de uma tribo global, constituída quase na totalidade de covardes que recusam a se olharem com a cara limpa. Apega-se a tudo o que é ilusório. A loucura é o boom de nossa civilização moderna e atormentada.
Essa triste herança foi construída pela falta de amor fraternal, da negativa das simples razões que emanam do coração. Encerro a crônica com a observação de Erasmo: A loucura é que governa a seu bel-prazer o universo.

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