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Mensagem: Lembranças de um “Casarão”Ruth Tupinambá GraçaMuitos montesclarenses conhecem o “Casarão” da “Fafil” mas nem todos conhecem sua história e sua influência benéfica por mais de um século, para a nossa comunidade.Foi Lá que eu cursei o Primário no Grupo Escolar Gonçalves Chaves funcionando Lá até a sua mudança para a Praça Dr. João Alves em prédio próprio, onde funciona até hoje.Levantando as teias de aranha (cortinas do passado) eu me vejo adolescente, cheia de sonhos e esperanças quando freqüentava aquela Escola nos “anos trinta” já fazendo o “Curso Normal” (magistério).Eu me sentia orgulhosa e feliz (com minha pobre Escola) como se estivesse cursando uma grande Faculdade da Inglaterra, França, Estados Unidos.Cheia de entusiasmo eu queria aprender tudo fazendo planos, para no futuro, galgar um Curso Superior.De repente tudo me vem a mente. Cada cantinho daquele “Casarão” me traz muitas recordações e muita saudade. As conversas no recreio, com as colegas, quando alegre e esperançosas trocávamos confidências, falávamos dos namorados, das conquistas, das paixões, dos beijos que não foram dados e que morreram nos lábios...Nossa cidade não possuía Clubes Sociais, portanto”, eram Lá todas as festas. Esperávamos com ansiedade os Bailes em beneficio da Caixa Escolar, que saudade! Foi lá que conheci o meu “Príncipe Encantado”O mês inteiro vendíamos os ingressos aos rapazes, era obrigação das alunas.O salão da frente era ricamente ornamentado com flores artificiais (não existia floricultura na nossa cidade) e o assoalho de taboas largas era esfregado com as folhas ásperas de sambaíba e lustrado com raspas de velas para que os pares deslizassem melhor, ao som das valsas.As belas sacadas de ferro, nas portas da frente, eram o refúgio dos namorados. Por trás das pesadas cortinas as atrevidas mãos se encontravam e sob olhar terno das donzelas, as juras de amor, enquanto os outros casais rodopiavam ao som das dolentes valsas, executadas pelas ágeis mãos da professora Dulce Sarmento, o sax do Tonico Teixeira, o bandolim do Ducho e a clarineta de Adail Sarmento. Graças ao romantismo do ambiente, muitos namoros ali começados se concretizaram em casamentos, formando as tradicionais famílias que ainda hoje existem na multiplicação dos filhos, netos e bisnetos.Anos passaram, eu me casei e mudamos para Belo Horizonte, quando voltei o “Casarão” já estava ocupado pela “Fafil” (Faculdade de Ciências e Letras) o primeiro Curso Superior de nossa terra, embrião da Unimontes, que cresceu muito, mudou-se para prédio próprio onde funciona até hoje. Nestas alturas, eu resolvi estudar novamente e optei pela Pedagogia, a qual terminei com 60 anos.Por isto é que este Sobrado me marcou tanto e guardo dele as melhores recordações e espero ver este magnífico Monumento Histórico reformado, alegre e bonito (como o conheci) e nele funcionando o tão esperado Museu Histórico Regional de Montes Claros.(N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).
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