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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: PARA MINHA PROFESSORA ROSITA AQUINO

“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa , sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”

Guimarães Rosa

90 anos de vida não é para qualquer um. Dona Rosita, além de ser uma protegida pelos deuses da genética, construiu sua vida sobre os pilares sólidos de nobres valores. Ela é a gentileza, a doçura, discrição, a simplicidade. Sempre me passou a imagem da professora ideal, que nunca trazia um motivo de amargura, antes, tinha um jeito sutil infinitamente delicado de tratar seus alunos. Dona Rosita faz parte do time de professores que plantam as sementes e elas enraízam dentro dos alunos, porque, acreditam que as verdadeiras aprendizagens passam pelo coração! E quantas lições aprendemos pelo coração nesta vida! Ela educava muito mais do que instruía. Ao lado do conhecimento em suas aulas não estimulava a competição, não fazia comparações, ela fazia seus alunos sentirem-se felizes. Estimulava à amizade, a compaixão, a solidariedade; e, o mais importante, mostrava a beleza da simplicidade, da vida com gosto de brigadeiro, pipoca e algodão doce.
Era o ano de 1950. Numa casa antiga na esquina das ruas Pedro II com Camilo Prates funcionava o Grupo Francisco Sá. Estava cursando o quarto ano primário. Minha professora, Dona Rosita Aquino, plantou na alma de uma menina sonhadora, sementes que brotaram e floresceram. Desse tempo não há como esquecer as histórias emocionantes do livro “Coração” de Edmund D’amicis que ela lia a cada sexta-feira e, continuava nas seguintes, pois as histórias eram imensas e belíssimas. Despertou-nos a sensibilidade da leitura de poesias. Lembro-me de “Os tamanquinhos” de Cecília Meireles, “A bola azul ”de Manoel Bandeira, “Pássaro cativo” de Olavo Bilac. A menina do grupo escolar cresceu achando que os livros são tesouros que ninguém pode roubar; e, hoje a arte da poesia e aquelas histórias e poemas vivem para sempre no adulto que a menina é. Outra lembrança: tínhamos dois cadernos do “Dever de Casa”. Dona Rosita levava-os diariamente para corrigi-los, e, era uma disputa entre nós que queríamos carregá-los até a sua casa na Dr. Veloso. Nem a fome nos impedia desse comportamento, porque era uma maneira de agradecer a quem queríamos tanto.
Querida Dona Rosita, quando li seu belo convite, fiquei tão emocionada em fazer parte da sua vida em algum momento! Infelizmente, não pude compartilhar pessoalmente da alegria do presente que Deus lhe concedeu: 90 anos de uma vida digna e exemplar! Aqui do meu cantinho escuto em sua homenagem “Aquarela do Brasil” que é o hino da alegria do brasileiro e, eu estou super feliz em homenagear uma professora que ajudou a construir esse país! Aproveite o seu dia de rainha! A senhora o fez por merecê-lo!
Existe ainda uma menina que me povoa. Continua alegre, amorosa, mergulhada em fantasias. Sexagenária, sonha com futuro promissor. Fazer o que... E é essa menina que foi sua aluna e a quem mostrou tantos caminhos que agradecida se atreve a dar-lhe algumas sugestões. Ter o privilégio de fazer 90 anos, lhe dar o direito de ter todo o tempo para a senhora e para os que ama; jogar conversa fora com os amigos; não querer escutar os problemas com muito detalhe; fazer de contas que não ouve quando o assunto é desagradável; não escutar as declarações da maioria corrupta dos políticos brasileiros; não cumprir formalidades nem sofrer à toa; e não se assustar com mais nada.
É viver como diz a letra da música: “Ando devagar porque já tive pressa”.

Com gratidão da aluna

Carmen Netto Victória

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