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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Morte em tempo de paz

Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´

Quem acompanha os noticiários das televisões, as reportagens das radioemissoras e das editorias de polícia dos jornais, sobretudo os das capitais e grandes cidades brasileiras, se espanta com o assombroso relato de crimes contra a pessoa humana: quanto à perversidade como são perpetrados e pelo seu número.
A despeito das providências adotadas pelo poder público para conter a violência, ela existe e prolifera. Os relatórios oficiais são otimistas e animadores – cai o índice de criminalidade. No entanto, só pelo que se lê diariamente, nos meios de comunicação, verifica-se que a bruteza se manifesta em todas as suas modalidades. Diante de números irrefutáveis, a imprensa já compara os mortos no Brasil aos de guerras declaradas, ou não. Como no Iraque e entre israelenses e palestinos. São constatações que não nos deixam tranquilos e conformados com as ocorrências aqui.
Na Cidade Maravilhosa, há uma guerrilha urbana, que não se esconde. No Brasil, criou-se um banco de dados sobre homicídios em 1979. O “ranking” é liderado por Pernambuco e Espírito Santo, até há algum tempo. A partir de 2003, os casos apresentaram redução, mas a criminalidade demonstrou estar migrando para o Norte e o Nordeste, apesar de manter índices preocupantes no Sul/Sudeste.
Estudioso da violência, o economista Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, advertiu por um jornal paulista para a tragédia anunciada da segurança pública brasileira. Aliás, não faltam os que apontam soluções, que todavia não ocorrem.
Segundo Cerqueira, os políticos são responsáveis pela ausência de estratégias de médio e longo prazos que não se enquadram no calendário eleitoral. Propõe que deixem de ser reativos e meramente preventivos e se antecipem à violência e ao banditismo, fortaleçam-se em projetos sociais eficientes e em táticas de policiamento adaptadas a cada realidade. Mutatis mutandis, isso vem acontecendo, mas o resultado final não é dos mais convincentes. Não se há negar que o crime hoje é perpetrado em várias escalas sociais, econômicas, geográficas e etárias. Evidentemente, tem-se de trabalhar o futuro através da infância e da adolescência, esta já premida explicitamente ao crime.
Quanto aos bandidos, a situação se torna insuportável, porque em grande parcela recuperáveis e se terá de fazer vultosos investimentos em presídios. Cumpre gastar muitos nesses estabelecimentos, em detrimento da construção e manutenção da rede escolar. Para Cerqueira, “ações centradas nos incidentes, no crime em si, ou apenas na prevenção, não funcionam e estão ultrapassadas no mundo todo. O poder de polícia funciona melhor se for descentralizado e vier acompanhado de instrumentos de controle contra desvios de conduta. O primeiro contra a corrupção, o segundo a denúncia”.
Escamotear dados não diminuem ocorrências. Assim aconteceu nos Estados Unidos e Europa. É imprescindível um diagnóstico preciso e real. O que sabe é que, em 30 anos, o Brasil registrou 1 milhão de homicídios, conforme dadas computados pelo Data SI, do Ministério da Saúde. Crime não é, porém, caso apenas para a Polícia. Lá mesmo nos EUA e países europeus, definiram-se prioridades e se montaram programas com cruzamento de dados de saúde, levantamento de vítimas dos variados crimes, não apenas homicídios, e a descentralização das ações policiais. O Brasil precisa ser um país menos violento, eis a questão.

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