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Mensagem: EM BUSCA DE PEQUENOS MOMENTOSA minha primeira percepção completa de vida e consciência ocorreu aos três anos de idade. (Na foto, o autor, no dia da primeira comunhão). Lembro-me, como se fosse hoje. No desfile das recordações, fatos se fixaram indelevelmente na minha saudade e na minha lembrança. Então, caminhava com meu tio ´Lero´ pela Avenida Afonso Pena, em BH, puxando por um cordão um filtro velho de óleo de caminhão, na minha imaginação uma luzida “baratinha”, que rolava pelo passeio com grande estrépito.Era uma Belo Horizonte de linhas curvas e bem traçadas, ruas calçadas com paralelepípedos cortados por uma teia de trilhos franceses em que trafegavam bondes românticos. O casario colonial, em “art decó”, com seus monumentais jardins repleto de flores, beija-flores, abelhas e deliciosos e inesquecíveis aromas.Aos quatro anos, como eu curtia o passeio aos domingos com os avôs no Ford Bigode do meu pai! A ´manica´ de ferro que dava partida no motor contava com a nossa entusiasmada torcida, para não falhar nem quebrar o braço do seu “operador”, ao retornar à posição original, o que acontecia freqüentemente... Tinha o radiador que fervia e jogava para o alto a tampa do bujão, o tubo de chocolate Kauffman que grudava no céu da boca, muitas vezes de propósito, pois só era descolado com um saboroso gole de guaraná espumante tomado no canudinho...Tinha a calça de linho S120 branco, a gravata borboleta e o suspensório colorido, compondo o “glamour” dos almofadinhas de ontem, valorizado pelo sapato “Scatamachia” de verniz polido com graxa “Nugget”. Tinha o vôo dos meninos com coqueluche, pelas asas da Panair, com direito, ao posar o “avião da tosse” a tirar fotos no Parque Municipal, por conta da empresa.Tinha o calor da fantasia de mandarim confeccionada com cetim e a sacola pendente com confetes, serpentinas e o lança perfume Rodoro de metal, para dançar o carnaval cantando... “sa... sa... ricando/ todo mundo leva a vida no arame/ sa... sa... sacricando/ a viúva o brotinho e a madame/ o velho/ na porta da Colombo/ é um assombro/ sa... sa... ricando! 1954 e o primeiro dia de aula no Instituto Norte Mineiro, comendo o doce de manga verde de dona Albertina e vendo a beleza do paletó de veludo verde do professor Márcio. A meia espuma de nylon em cores berrantes, calçados o quedes, mascando o chiclete “bola” importado via Santos, a um dólar cada.Tinha o cabelo cortado à Príncipe Danilo, a brincadeira de “estraque deixa”, o canivete Corneta no estojo, a caneta Parker 51 com pena folheada a ouro e as balas Toffee, compradas no bar de Adail Sarmento e a notícia da morte da imortal Carmen Miranda.Junto à adolescência, chegaram, também, o canivete de molas ao estilo “West Side History”, a calça “Roebuck” e a botinha meio cano com o cinturão de couro e fivela “country”. Além dos épicos faroestes e o porre de Cinzano bebido às margens do rio do Melo.Muitas são as saudades do cabelo longo introduzido pelos “Beatles” e da mística das suas músicas mais que eternas, que nos sufocavam de pura emoção, do “twist”, e o encanto da inauguração da “bossa nova”, ainda entre aspas, na voz de João Gilberto, do som do violão de Baden Powel. Da camisa “Prist”, do tango dançado na pista da boate de Anália, o perfume embriagador das damas da noite e o som do violão do virtuose instrumentista Antonio Augusto Soldado (irmão de Théo Azevedo), solando... “Corrientes/ trê quatro otcho/ tercero piso/ ascensor...”Como tão bem diz o inspirado poetinha Felippe Prates: - “Estou nú, dentro de mim!...”
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