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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O PÉ DE ANJO

Também conhecido com a alcunha de Dilo Barbeiro, ou mesmo Dilo Conquistador. Calçava habitualmente um sapato branco esporte e andava sempre muito bem vestido e rescendendo a Lorigan francês.
Nos românticos 1960, tinha o seu salão de barbeiro enfincado no imóvel dos Dias à rua Simeão Ribeiro, em frente à ZYD7. Na parede do salão uma grande placa em letras garrafais onde se lia: ”LAVA-SE CABEÇA E TIRA-SE CASPA”.
A modernidade trouxe a telefonia automática e, com ela, o aparelho de baquelita preta da Siemens e Dilo Barbeiro, como era criterioso, chique e atendia a ricos fazendeiros e políticos em domicílio já instalara o seu telefone, embora na época só pessoas abastadas tivessem um aparelho em casa ou no trabalho.
Piau, um vendedor autômono e malandro do pedaço, morador da rua Santa Efigênia no afamado Bairro Morrinhos, em uma tarde de cão onde já havia tomado umas fubúias desdobradas, resolveu bagunçar o coreto do mundo e escolheu Dilo como vítima.
Sabedor de que o nosso herói tinha o temperamento explosivo e era emocionalmente epidérmico, ligou para o barbeiro Don Juan e vindo em espirais metálicas pelo telefone Dilo recebeu o provocador diálogo: “Quanto o senhor cobra para lavar só a cabeça?” – “Dez!” – “E para lavar o membro todo com a cabeça incluída?”
Ato seguinte e acometido da ira dos justos, Dilo arrancou os tentáculos e artérias daquele monstro grudado na parede. A fiação, como um polvo traiçoeiro foi enroscando em suas pernas, braços e mãos terminando por deixá-lo piado na sarjeta sob os olhares estupetafos dos transeunte!
Douta feita, ao passar por um relógio público posto em frente à Leiteria Celeste do saudoso Zé Priquitim, para oferecer as horas e a temperatura aos passantes, foi abordado por um gigante galalau vindo da roça que ao ver o elegante relógio de pulso do Dilo, perguntou: “Que horas é, seu moço?”
Acometido pelo estigma da razão localizada e explícita e imaginando estar sendo “gozado”, Dilo Pé de Anjo apontou para o relógio público e vociferou trincando os dentes: “Veja as horas aqui, seu besta!”
Em uma reação súbita o gigante roceiro pulou sobre o nosso barbeiro irritado e aplicou-lhe uma gravata, ao mesmo tempo em que os corpos engalfinhados rolavam pela sarjeta.
Dominado pela força bruta do agora opositor e, com receio de levar uma bruta sova, Dilo respondeu como pôde, estratégica e salvadoramente: “É oito horas, meu senhor!”
Deitado no chão, mas, já livre do abraço de tamanduá tupiniquim, Dilo bradou a grande voz conclamando a presença das hostes de capetas e demais entidades sombrias dos Hades de Dante que trouxessem tufões e tempestades para exterminar com aquele galalau hostil que, a essas horas já se ausentara do local da via de fato...

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