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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: De peso e medida

Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´

A Câmara Municipal de Francisco Sá, por iniciativa do vereador Joaquim Fernandes Soares, aprovou proposta de luto oficial no município de três dias pelo falecimento de Olinto Silveira.
No encaminhamento, ao apresentar a manifestação de pesar ao prefeito Marisvaldo Ferreira de Souza, o edital enalteceu o relevante papel de Olinto para a cultura norte-mineira.
Disse ainda: “Acabamos de perder uma das mais significativas e ilustres inteligências: o político, o poeta, o romancista, o historiador, que deixou uma extensa folha de serviços à coletividade, “exemplo de cidadão ilibado, de uma reserva moral a toda prova”.
Ora, ao deixar-nos após quase cem anos de labor, Olyntho – cm y e th – como assinava, provocou o surgimento de um vazio, num mundo e em uma época em que há vazios de seres humanos predestinados. Entre estes, está esse cidadão de Francisco Sá, cuja morte causou silêncio na região em que nasceu e viveu.
Ele não amava o ruído, não queria flores e encômios pelo que foi e fez.
Foi puro e feliz, em sua humildade, dedicado a seus livros – os que leu e os que escreveu, sempre ao lado de Yvonne – também como y e dois ns, como registrada e consta de sua certidão de batismo.
Típico fruto norte-mineiro: simples, correto em seus deveres, circunspecto, acima de tudo – sereno e íntegro. Escrevia, como a esposa; o irmão, os sobrinhos, intelectuais autênticos e devotados às boas causas e às boas letras.
A sobrinha, Maria Luíza, professora, autora de livros de alto nível, comentou: “A vida não tem misericórdia alguma com nossa dor, com nossa saudade. Ela continua, inclemente, com suas exigências. E, mesmo com o coração partido, o peito oprimido, as lágrimas contidas ou não, a caminhada prossegue. E, dentro de nós, a esperança do futuro reencontro”.
A hora da dor, a hora da meditação. Seu irmão, homem que percrustava a história e em torno dela se realizava, comentou outrora: “Assim somos todos nós.! As folhas todas vão caindo, pouco a pouco, para que a árvore se revista de folhas novas! Olyntho foi das últimas das velhas folhas, mas a árvore continuará de pé.
Esse sertanejo, avesso à publicidade, opositor às vanglórias pessoais, que fazia o que os deuses lhe facultaram, amou solenemente a terra em que nasceu e viveu; estudou-a, nela se encontrou. Foi homem da história, da poesia, da crônica.
De sua autoria é “Brejo das Almas”, o segundo livro com esse título. O primeiro fora de Carlos Drummond de Andrade, que se apaixonou com o topônimo. Em seu trabalho, com Yvonne, o autor se atém aos primitivos e remotos dados históricos do município, acrescentando acontecimentos e tipos locais.
Francisco Sá presentemente, antes Brejo das Almas, teve primeiramente o nome de Cruz das Almas das Caatingas do Rio Verde, extenso e belo, como costume dos antigos designar os lugares de nascença.
No seu livro, Olyntho recorda a época da passagem de Prestes e seus homens por todo o país, com sua famosa Coluna.
Para combatê-la o Governo central lançou mão de todos os elementos disponíveis, mesmo a escória, contando com apoio dos estados.
Certo dia, em fevereiro de 1926, a vila do Brejo foi tumultuada e sacudida por intensa fuzilaria, vinda de todos os lados. Balas zumbiam sobre as casas e as atingiam.
Um exército de homens sujos e maltrapilhos, armados de fuzis e metralhadoras, aparecia nas ruas. Eram mais de quatrocentos que exigiam alojamentos e alimentação, porque famintos.
Aparecera, sob comando de um suposto “maior” Honório Granjas, vindo da Bahia, para combater os soldados de Prestes. A maior parte dos moradores fugiu, embrenhado-se no mato a contrafortes das serras, mesmo para passar privações.
Reler estas páginas de Olyntho é voltar a um passado que não existe mais. Só ele, que agora virou memória, uma boa memória e exemplos, de quem quase completou cem anos de vida, pesados e medidos, como convém a um cidadão de peso e medida, como observou Haroldo Lívio.

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