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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: PEDRO SANTOS

Eu o conheci na casa de meus pais, na rua Presidente Vargas, em minha infância. Vi aquele homem alto, magro, corpo atlético, vestido todo de branco, com sapatos também brancos. Disseram-me que usava aquela roupa porque era médico. Sempre sorridente, brincou comigo, o que me envaideceu, porque, normalmente, os grandões não davam muito papo para crianças.
Depois minha mãe me disse que ele nascera em Brasília de Minas, que sua família se mudara para nossa aldeia e que se formara em Medicina, no Rio de Janeiro. Orgulhosa, contava ter feito a primeira faxina na casa que ele residiria, quando voltara da Cidade Maravilhosa, casado com D. Sílvia, mulher finíssima e grande pianista. Essa casa se localizava na Dr. Veloso com D. Pedro II, em frente à de meus avós maternos. Mostrou-me até uma foto de sua formatura, que guardava num álbum de família.
Em minha juventude, quando fazia o curso ginasial, vi-o jogando futebol no campo do Ateneu. O muro do quintal de sua nova residência, onde tinha também seu consultório, fazia divisa com o do estádio. Seu filho, Jorge Antônio Santos, o Tone Santos, era craque no futebol, jogando no meio de campo, e eu já me tornara seu fã incondicional. Parecia um Didi ou um Gérson fazendo aqueles longos lançamentos e deixando os atacantes na cara dos goleiros. Chutava bem e muito forte. Depois, já bacharel em Direito, Tone casou-se com Leninha, minha prima, filha de tia Lila, irmã de meu pai, o que me encheu de alegria, pelo fato de receber um grande amigo em minha própria família.
Vi, por duas vezes, “Pedrão” ser eleito nosso Prefeito Municipal. A política daria a nossa aldeia um de seus maiores líderes, que o povo, carinhosamente, sempre carregava nos braços. Num de seus mandatos nomeou-me presidente de uma comissão de cidadãos para apurar irregularidades que teriam ocorrido na Prefeitura, denunciadas pela imprensa. Eu sempre dizia que “Pedrão” era um INPS da pobreza. Pura verdade. Jamais vi médico tão caridoso. Cuidava mais do semelhante, especialmente dos pobres, do que de si próprio. Não deixava ninguém sem o devido amparo. Seu imenso prestígio político conquistou outras plagas, na região e em todo o país. Era o bom de votos. “Ferrava”, nas urnas, seus adversários, que nem marimbondo, inseto este tornou-se símbolo de suas vitoriosas campanhas.
Quando meu pai faleceu, abri seu cofre e encontrei, em antigos documentos, uma nota promissória assinada por “Pedrão”, em branco. Liguei a ele. Simplesmente me disse que a cambial deveria ser representativa de algum negócio que os dois teriam feito, há muito tempo, e que ele poderia tê-la entregue a meu pai como garantia. Pediu-me que a rasgasse, o que fiz, prontamente. Pedro Santos era assim. Não ligava para formalidades. Um fio de sua barba e a palavra dada eram muito mais idôneos do que quaisquer outras formas de celebrar e honrar compromissos.
Certa feita ele não gostou de uma entrevista que dei a Reginauro Silva, num jornal tipo mural, que era publicado em vários locais da cidade. Dissera que, embora tivéssemos em sua pessoa nosso ás da política, chegara a hora da abertura de espaços aos mais jovens. Ele não gostou e respondeu, enfático, criticando minha presunção. Nossa grande amizade, no entanto, não se abalaria. Em nosso primeiro encontro, após o entrevero, nos cumprimentamos e nos abraçamos alegremente, como sempre fazíamos.
“Pedrão” faz muita falta a minha aldeia. Certamente Deus está recompensando sua imensa bondade, seu inigualável desprendimento e seu extremo amor ao próximo. Se os russos tiveram, no século XVIII, Pedro, o Grande, tivemos, no século XX, nosso Grande “Pedrão”.

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