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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 1 de outubro de 2024
 

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Mensagem: O centenário do imortal seresteiro Roberto Elísio Um grupo de luzienses composto por representantes de velha guarda e de gerações intermediárias está cuidando de fazer realizar no mês de outubro próximo, se possível no dia 3, uma emocionada serenata na cidade, para marcar o centenário de nascimento de Orlando Silva, o maior cantor brasileiro de todos os tempos, como unanimemente o consideram os mais respeitáveis estudiosos da evolução histórica do nosso cancioneiro popular. Em termos de beleza de voz e de poder interpretativo, do samba rasgado às suaves valsas e canções seresteiras, nunca qualquer outro se nivelou a ele. Nem antes nem depois da notável trajetória do menino pobre nascido no dia 3 de outubro de 1915 no Bairro do Engenho de Dentro, no subúrbio do Rio de Janeiro, e que com apenas 18 anos de idade já se tornara uma referência no cenário artístico do país, que passou a aclamá-lo como “O Cantor das Multidões”. Sua morte, em 7 de agosto 1978, antes de completar 63 anos, emocionou o Brasil inteiro. O sepultamento, no dia seguinte, parou o Rio. Como nunca ocorrera antes, nem depois, segundo registrado recentemente pela revista “Veja”. As gerações mais jovens de Santa Luzia, que não conheceram Orlando Silva, certamente nada sabem também sobre sua extraordinária importância na história da música popular brasileira. Basta lembrar que ele surgiu justamente na era de ouro do rádio, que apresentava, entre outros nomes de sucesso, três astros então já nacionalmente consagrados: Francisco Alves, “O rei da voz”, Sílvio Caldas, “O seresteiro do Brasil”, e Carlos Galhardo, “O cantor que dispensa adjetivos”. Embora tenha aparecido depois, Orlando, em pouco tempo, já era considerado o maior de todos eles, tanto em vendagem de discos quanto à empolgação que despertava junto ao público de todas as idades, classes sociais e sexo. No início da década de 40, uma apresentação dele em Belo Horizonte, mais precisamente no auditório da Rádio Guarani, na esquina da Rua São Paulo com Avenida Afonso Pena, acabou por exigir a presença no local da polícia Militar, que teve de intervir e instalar nas imediações um forte cordão de isolamento, a fim de impedir que centenas de fãs mais exaltadas continuassem rasgando o seu terno para guardar um pedaço do pano como troféu.. Uma comissão em nível nacional, instituída no Rio – e da qual faz parte inclusive o senador José Serra, ex-governador de São Paulo, ex-ministro e ex-candidato à Presidência da República – está elaborando, desde janeiro, cuidadosa programação para celebrar a passagem do centenário de nascimento do insuperável criador de “Carinhoso”, “Sertaneja”, “Nada além”, “A jardineira”, “Lábios que eu beijei” e dezenas de outros sucessos inesquecíveis que tanto enriqueceram a alma musical do Brasil. E como a ciência já se encarregou de dizer que as palavras não se perdem no tempo, porque permanecem vagando indefinidamente pela imensidão do universo, a voz do grande Orlando Silva também passou a pertencer à história das madrugadas seresteiras de Santa Luzia, essa romântica e doce cidade que a mão divina plantou há mais de três séculos à margem do Rio das Velhas e à sombra simbólica da Serra da Piedade. No auge de seu mais estrondoso sucesso, no final da década de 50 e início dos anos 1960, “O cantor das multidões” esteve por duas vezes iluminando a noite luziense com a beleza de suas interpretações, trazido pelas mãos do saudoso jornalista Antônio Tibúrcio Henriques, que Orlando tinha como um de seus maiores amigos em Minas Gerais: a primeira, durante show no velho Cine Trianon, onde lançou, inclusive, uma marcha de Carnaval que ainda não havia sequer gravado. A letra, da qual me lembro do início ao fim com muita saudade, fala em flores vegetais e em flor mulher: “Eu era apaixonado pela rosa/ Depois apareceu a margarida/ Gostei da magnólia mais formosa/ Hortênsia sempre foi a minha vida/ Camélia, violeta e outras flores/ Chegaram a tomar conta de mim/ Confesso que elas são os meus amores/ Mas tá faltando flor no meu jardim/ Bem me quer, mal me quer/ Essa flor é a mulher”. A outra presença na cidade ocorreu no Clube Social Luziense. Orlando não aceitou qualquer pagamento de cachê pelas apresentações, ao saber que a renda dos espetáculos se destinaria ao custeio dos festejos em honra da padroeira da cidade. Os shows de Orlando continuaram depois pelas ruas centrais de Santa Luzia, que se transformou na capital mineira da seresta. Choveu gente de várias regiões do Estado, das áreas urbanas e rurais, como foi o caso do nosso sempre jovial Dodô da Cachoeira, que veio a cavalo de sua fazenda, embora ela ficasse mais de 20 quilômetros de distância do centro, e rompeu a madrugada em meio a violões e clarinetas no acompanhamento ao insubstituível intérprete de “Caprichos do destino”. É exatamente no Clube Social Luziense, local da última apresentação de Orlando Silva na cidade, que a comissão formada em Santa Luzia sob o comando do advogado, compositor e clarinetista Vicente Sandim pretende celebrar os 100 anos de nascimento do maior cantor brasileiro de todos os tempos. As instalações da agremiação, bastante desgastadas em decorrência de um longo período de inatividade, estão sendo restauradas por iniciativa da conterrânea Matilde Franco Diniz, atual responsável pela sua manutenção. Ela vem se mobilizando no sentido de colocar o recinto em ponto de bala para a reverência à memória de quem, inclusive tendo como base o cenário colonial de Santa Luzia, tanto encantou o país com suas admiráveis interpretações. Orlando Silva, o ser humano, morreu antes de completar 63 anos de idade. A beleza incomparável de sua voz, todavia, permanecerá para sempre. Foi imortalizada pelas modernas técnicas de reprodução sonora e pelo milagre da saudade... *** (N. da Redação - O jornalista Roberto Elísio foi Editor de Política e Diretor de Redaçao do Estado de Minas. Primoroso redator, é um dos maiores especialistas em Orlando Silva, no Brasil. Naturalmente, nasceu na imperial cidade de Santa Luzia.)

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